«1 - Muhammad al-Ghamdi tem 54 anos, foi professor. Tinha duas contas no Twitter (agora X) em que criticava o regime saudita. É irmão de um dissidente, exilado em Londres. Foi preso, passou vários meses numa solitária, sem direito a visitas da família nem acesso a um advogado. Em julho, foi condenado à morte. Aguarda a execução da sentença.
2 - Salma al-Shehab tem 34 anos, estava a fazer um doutoramento em Medicina em Londres. Tem duas filhas, de seis e quatro anos. Tinha conta no Twitter e usava-a para criticar o regime saudita. Em dezembro de 2020, de férias no país, foi detida e acusada de terrorismo. No ano passado, os tribunais ampliaram a pena para 34 anos de cadeia (entretanto reduzidos para 27).
3 - São sete rapazes, todos detidos antes de fazerem 18 anos (um deles tinha 12 anos). Foram condenados à morte. Seis deles foram considerados terroristas por participarem em protestos contra o Governo saudita, ou comparecerem em funerais de vítimas da violência do regime. Foram torturados e assinaram as confissões. Sete crianças aguardam o dia da execução.
4 - São migrantes etíopes e fazem a travessia do mar Vermelho até ao Iémen, em direção à Arábia Saudita. Assim que atravessam a fronteira, são abatidos, ora com morteiros, ora com tiros à queima-roupa pelo sauditas. Tornou-se um padrão. São centenas de mortos. Há testemunhos, vídeos, fotografias e imagens de satélite que o comprovam. Corpos de homens, mulheres e crianças com os corpos desmembrados e espalhados pela terra de ninguém.
5 - Os sauditas gastaram sete mil milhões de euros, desde 2021, com o desporto e, sobretudo, com o futebol. Os futebolistas e treinadores portugueses alinham, como outros, nesta operação pornográfica para desviar a atenção sobre as atrocidades do regime, de sorriso rasgado pela chuva de dólares: Jesus, Rúben Neves, Otávio e, antes de todos, Ronaldo são os promotores de um regime atroz. Bastariam uns minutos de navegação pelos sites da Amnistia Internacional ou da Human Rights Watch para perceberem que Muhammad, Salma, as sete crianças, as centenas de etíopes vivem e morrem num Inferno. Coisas desagradáveis que não interessam quando a bola rola e há milhões para faturar. Mas é verdade que não estão sozinhos na hipocrisia.»
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