«As filas de contentores brancos e arrumados estendem-se até às gruas do enorme local de obras. Vêem-se roupas penduradas a secar em algumas das janelas.
A instalação irá servir de casa para cerca de 5200 trabalhadores, a maioria provenientes da Ásia. Os indianos, paquistaneses, filipinos e turcomanos estão a trabalhar na Orlen, a maior empresa da Polónia e uma campeã económica do Governo, para construir instalações de plástico no enorme complexo de refinaria no valor de 6,3 mil milhões de dólares (5,8 mil milhões de euros).
A cerca de 600 quilómetros a sul, na Hungria, trabalhadores de construção chineses juntam-se para fazer um intervalo, enquanto olham para os seus telemóveis. Estão a trabalhar na construção de uma de três fábricas perto da cidade de Debrecen, que integram os planos do primeiro-ministro, Viktor Orbán, para a produção de baterias de veículos eléctricos que vão ser os pilares futuros da economia húngara.
A ideia de que os trabalhadores estrangeiros podem preencher as lacunas do mercado de trabalho é comum, e uma escassez crónica está a obrigar os empregadores em toda a Europa a olhar mais além. Mas na Europa do Leste, essa é uma verdade inconveniente agora desmascarada: a realidade económica deparou-se com um dos discursos anti-imigração mais vitriólicos no continente.
Os políticos em Varsóvia e Budapeste protestam há muito tempo contra os planos da União Europeia sobre quotas para migrantes. Perante centenas de milhares de posições no mercado de trabalho por ocupar, ameaçando travar o crescimento económico, os dirigentes agora enquadram as milhares de chegadas da Ásia como “trabalhadores convidados”, em vez de migrantes que irão ficar mais tempo.
A mudança na narrativa está a fazer destes partidos um alvo para os adversários políticos. O partido da Lei e Justiça, no poder na Polónia, que pretende alcançar um terceiro mandato consecutivo nas eleições de 15 de Outubro, abandonou no mês passado um plano para acelerar a emissão de vistos, na sequência de críticas do maior partido da oposição. Na Hungria, Orbán tem sido criticado por substituir cidadãos do país por trabalhadores asiáticos mais baratos.
“É claro que há uma mudança”, diz o presidente da Câmara Municipal de Debrecen, Laszlo Papp, durante uma entrevista no seu gabinete. “Mas há uma grande diferença entre a migração a que nos opomos e a questão dos trabalhadores estrangeiros, e a diferença é o controlo”, afirmou Papp, que pertence ao Fidesz de Orbán, actualmente no poder. “Isso torna-o aceitável.”
Desde a crise de refugiados de 2015 e da decisão da Alemanha de abrir as suas fronteiras, as lideranças populistas na Polónia e na Hungria apresentaram-se como as protectoras da herança cristã da Europa.
O Governo de Orbán construiu uma vedação para impedir a entrada de refugiados, recusou ilegalmente abrir processos para os requerentes de asilo e montou cartazes com avisos contra os estrangeiros por estarem a ficar com os empregos na Hungria. O líder do partido no poder na Polónia, Jaroslaw Kaczynski, disse que os muçulmanos são uma ameaça à Europa. Mais recentemente, em Julho, os dois países juntaram-se para bloquear um plano da UE para que os Estados-membros pudessem partilhar a recepção de pessoas que chegam de fora da Europa.
Este nativismo serviu os seus propósitos eleitorais numa das regiões menos multiculturais da Europa. Mas a maioria das economias no Leste da UE têm taxas de desemprego em torno dos 5% ou menos e pelo menos 670 mil postos de trabalho continuam por preencher.
Isso tem levado os governos a tomar medidas, confrontados com uma população envelhecida, procurando milhões de pessoas para assegurar que as suas economias continuam a progredir nos próximos anos. A escassez tornou-se mais profunda depois de a invasão russa da Ucrânia ter perturbado o fluxo de trabalhadores através de uma fronteira com que muitos países vizinhos contavam.»
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post (excerto)
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