Um texto de Pedro Feijó, publicado hoje no Facebook.
«São seis da manhã cá e acabo de chegar a casa. Foi uma das noites mais inacreditáveis da minha vida e tenho um favor a pedir-vos: por favor divulguem tudo o que puderem sobre a resistência na Turquia. Hoje fui expulso de um parque com uma carga policial. Hoje fui empurrado para um hotel com dezenas de feridos. Hoje fui fechado em salas com gás lacrimogéneo por todo o lado, sem conseguir abrir os olhos de tanto arder, sem conseguir respirar. Hoje levei com um canhão de água com químicos só por estar em frente a um hotel sem estar a ameaçar o quer que seja. Hoje estive nas ruas com o povo de Istambul. Hoje construí barricadas com eles, hoje atirei de volta as cápsulas de gás para cima da polícia, hoje fugi lado a lado pelas ruelas com medo da Polis. Hoje passei por Gezi durante a noite e já bulldozers a destruir tudo: o nosso parque, as nossas tendas, as nossas coisas. Hoje vi pessoas quase a asfixiarem, vi feridas abertas nos corpos. Hoje senti um tiro raspar-me as calças. Hoje fui tirado à bruta de dentro de um táxi pela polícia e revistado de cima a baixo, tudo o que estava dentro da mochila, e ofendido por ter um panfleto de Gezi como separador de um dos livros. Hoje volto a casa com uma raiva deste grupo de pessoas, deste grupo de caras, deste grupo de gravatas, destes Tayyips, e desta gente que veste o uniforme enquanto despe a consciência. Hoje chego a casa estoirado, a sentir que não durmo há dias, mas com a energia para correr todas as ruas desta cidade. Hoje chego a casa com mais força para lutar. Principalmente porque sei que não estou sozinho. Mas também sei que se a mensagem não passar aí para fora estamos perdidos. Estou num país onde um homem tem o direito de mandar espancar brutalmente milhares de cidadãs só porque ocuparam um parque. Sei que não podem vir para cá, mas por favor levem-nos para aí.»
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2 comments:
Erdogan e o seu partido institucional, o AKP,fizeram perder a cabeça `a multitude interclassista turca que combate nas ruas a corrupção do poder de Estado e o subtil embrigadamento " religioso " em rampante movimento por ele estimulado. Istanbul e Ankara, e muitas outras cidades, fazem lembrar o " Quartier Latin " em Mai-68... Erdogan, os seus caciques autarquicos e familiares, queriam construir no Gezi-Park um Centro Comercial...A juntar a faraonicos projectos de um segundo aeroporto, uma terceira ponte sobre o Bosforo e o canal a ligar o Caspio ao Mediterraneo...A reputada " prudencia " da inverosimel dupla EUA/ União Europeia pode " ajudar " Erdogan e os seus esbirros a fazerem sangue. Niet
Não entendo. O que faz Pedro Feijó em manifestações na Turquia? Uma homenagem à globalização? Um contributo para derrubar um dos ultimos regimes seculares no mundo muçulmano e instalar mais uma teocracia? Se quer passar alguma mensagem convém ser mais explícito. Que andar aos gritos em frente à polícia envolve alguns riscos, em qualquer parte do mundo, já sabemos. Pelo que temos visto, nos últimos anos, sempre que isso tem acontecido, na região, a situação só piora e tende a causar sofrimento a muita gente. Ele que se venha embora.
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