25.6.13

Um novo partido de esquerda? («Ressuscita, PRD»...)



Este post vem na linha de um outro publicado esta tarde pelo Luís Bernardo, a propósito da discussão sobre o possível aparecimento de um novo partido à esquerda, suscitada por uma entrevista que Rui Tavares deu ao «i» e de um artigo de José Vítor Malheiros no Público de hoje (sem link, mas que reproduzi aqui.)

Estando genericamente de acordo com o que o Luís escreveu, é-me impossível não estabelecer um paralelismo entre esta discussão recorrente sobre um hipotético espaço eleitoral entre o PS e os dois partidos com assento parlamentar, que se situam à sua esquerda, e aquela que deu origem, em 1985, à criação do Partido Renovador Democrático (PRD).

Os tempos e as motivações são outros, e alguns dos condicionalismos também, mas nem todos: se é verdade que a arena do PRD se situava entre o PSD e PS, e não à esquerda deste, é bom recordar que aquele partido nasceu em consequência da insatisfação com a política de austeridade posta em prática pelo governo então vigente (do bloco central, PS-PSD, 1983-1985, com Mário Soares como primeiro-ministro e com o FMI por cá...) e que foi precisamente a esse facto que ficou a dever-se o seu sucesso eleitoral nas eleições legislativas que se seguiram à queda desse mesmo governo: 18% nas legislativas de 1985, conseguidos sobretudo à custa do PS que desceu espectacularmente de 36 para 21%. Mas em 1987, quando o governo minoritário de Cavaco Silva foi derrubado por uma moção de censura e ocorreram novas eleições, o PRD passou de 18 para 5% de votos e de 45 para 7 deputados. O resto é conhecido: foi desaparecendo e acabou por vender a sigla para a legalização de um partido da extrema-direita.

Ou seja: não existia «espaço» real entre o PS e o PSD, como não existe hoje, julgo, entre os PS e o que está à sua esquerda. Há um grande descontentamento porque os socialistas não o são de facto, porque o Bloco parece um tanto à deriva, porque o PCP é visto como imobilista? Certamente. Mas não seria a criação de algo ideologicamente incaracterístico, mais ou menos gelatinoso, que se insinuasse nos interstícios pela negativa, que viria dar origem a uma base sólida e consistente. E ainda não vi nenhuma aproximação que não fosse isto mesmo, agora ou no passado recente, sempre que esta questão regressa à boca de cena. Se um partido deste tipo viesse a existir (o que eu não creio que venha a acontecer), até poderia ter, como o PRD teve, um resultado de estreia minimamente interessante e garantir uns tantos lugares ao Sol a muitos que os procuram. Mas não teria uma vida longa, como o PRD não teve, e, sobretudo, não resolveria o problema da esquerda portuguesa. O que resolverá então? Ah, isso é uma questão para um milhão de dólares, o caminho faz-se caminhando e o mundo não acaba amanhã.

(Também aqui).
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4 comments:

José Couto Nogueira disse...

O espaço existe, está lá, agora que o PS foi para o centro e os dois m-l se tornaram imprestáveis para alianças ou acordos. Não há é 1) líderes, 2) dinheiro, 3) pachorra.
As pessoas estão fartas de partidarismo, seja de que cor for, e certamente gostariam de um partido que não se importa de dizer que os outros têm razão quando fazem uma proposta boa para o país.

Joana Lopes disse...

José, tudo bem: que tipo de partido? Com que género de programa? É suficiente «dizer que os outros têm razão quando fazem uma proposta boa para o país»? Não me parece...

Xa2 disse...


Mais do que « +1 partido» entre tantos (que só dividem votos da Esquerda e permitem a Direita ganhar), é necessário :
COLIGAR (os partidos, sindicatos e movimentos que existem, NÃO se atacarem global e mutuamente, basta marcar as diferenças, quando necessário, e), UNIR em ACÇÕES concretas, respeitando as Diferenças, JUNTAR esforços para as CAUSAS COMUNS (valorizar os «mínimos denominadores comuns»)

Xa2 disse...

.Mansos esperam líderes...

Dizem
(os bem instalados, os alienados, os cérebros 'lavados' ou os fantoches e seus avençados,-- para desmotivar, dividir, desmobilizar... que):
«Não há líderes, dinheiro, pachorra» ...

Poderia haver mais e melhores líderes mas estar à espera que apareça D.Sebastião ou que outros façam/saltem para a frente da luta ... é uma posição cómoda mas de perdedor, de cidadão fraco, de 'manso',... assumam! é o 1º passo para se mexerem e deixarem de ser isso !

E esperar, que apareça, um Caudilho altruísta, democrático, herói, amigo pessoal, ... é desejar milagres ! caiam na real.

A aparecer, o mais provável é em pouco tempo o líder (e seu pequeno grupo) ser traído/ derrubado ou se passar para a Direita, anti-democrática, vendido ao grande capital e às oligarquias !!

Cidadãos, assumam-se como iguais em direitos e deveres !!
E se querem defender os vossos direitos, o Estado Social, a Democracia ...
comecem a REUNIR e Formar os "VOSSOS BATALHÕES" !!

pois de outro modo (divididos, isolados) serão derrotados, espezinhados, roubados, maltratados, abandonados, ... e/ou feitos ESCRAVOS.