O título não é provocatório, reflecte apenas o que me ocorreu imediatamente quando li o relato que James K. Galbraith fez da sua última visita à Grécia, há pouco mais de um mês: «Há um espírito de dignidade em Atenas, que vale muito mais do que dinheiro. Sente-se algo de muito profundo, que talvez só me tenha sido possível observar duas ou três vezes na vida. E trata-se de um espírito que é contagioso, que pode em breve ser sentido em Espanha, em Portugal, na Irlanda e em outros locais.» (No que nos diz respeito parecemos estar muito longe disso, mas adiante: lá chegaremos, mais cedo ou mais tarde.)
Um povo que reagiu ao jugo austeritário e devastador de troikas elegendo um partido como o Syriza e um governo que tem demonstrado uma persistência e uma firmeza notáveis durante os últimos três meses merecem o nosso aplauso, o nosso respeito – e a nossa gratidão também. Venceram, até agora, qualquer que venha a ser o futuro próximo. Com uma grande dignidade.
Somos massacrados todos os dias com noticias agoirentas, e de regozijo mal disfarçado, sobre a inevitabilidade de uma derrota na guerra implacável que está a ser movida contra a Grécia pelos seus pares europeus e pelas chamadas «instituições». De inevitabilidades estão os nossos olhos e os nossos ouvidos cheios e continuemos por isso a esperar que acabe por vencer a razão daqueles que recusam pisar linhas vermelhas que jogam com a vida de pessoas e não com regras ditadas por folhas de Excel. Atenas não pode, nem deve, continuar a aceitar, como no passado que a levou ao estado em que se encontra, reformas cruéis no mercado de trabalho, privatizações insensatas ou atentados ao sistema de reformas. E, sim, como disse Alexis Tsipras em entrevista concedida há alguns dias a uma estação de televisão do seu país, «a prioridade do governo grego é pagar os salários e as pensões».
Honrar a dignidade é isso mesmo: não tratar as pessoas apenas como meios, esquecendo que são, antes de mais, um fim em si mesmas. Não há dívida, défice ou burocracia que justifiquem que este princípio seja esquecido. A humanidade não pode regredir e a dignidade deve sair vencedora.
Não se sabe, neste preciso momento, qual será o desfecho, a curto ou médio prazo, do braço de ferro de que nos tornaram espectadores. Mas ninguém tirará ao povo e ao governo grego a vitória na terrível batalha travada nestes três últimos longos meses. Se a Grécia vier a perder a guerra, é sobretudo a Europa que sairá vencida.
[Publicado originalmente no Observatório da Grécia]
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Somos massacrados todos os dias com noticias agoirentas, e de regozijo mal disfarçado, sobre a inevitabilidade de uma derrota na guerra implacável que está a ser movida contra a Grécia pelos seus pares europeus e pelas chamadas «instituições». De inevitabilidades estão os nossos olhos e os nossos ouvidos cheios e continuemos por isso a esperar que acabe por vencer a razão daqueles que recusam pisar linhas vermelhas que jogam com a vida de pessoas e não com regras ditadas por folhas de Excel. Atenas não pode, nem deve, continuar a aceitar, como no passado que a levou ao estado em que se encontra, reformas cruéis no mercado de trabalho, privatizações insensatas ou atentados ao sistema de reformas. E, sim, como disse Alexis Tsipras em entrevista concedida há alguns dias a uma estação de televisão do seu país, «a prioridade do governo grego é pagar os salários e as pensões».
Honrar a dignidade é isso mesmo: não tratar as pessoas apenas como meios, esquecendo que são, antes de mais, um fim em si mesmas. Não há dívida, défice ou burocracia que justifiquem que este princípio seja esquecido. A humanidade não pode regredir e a dignidade deve sair vencedora.
Não se sabe, neste preciso momento, qual será o desfecho, a curto ou médio prazo, do braço de ferro de que nos tornaram espectadores. Mas ninguém tirará ao povo e ao governo grego a vitória na terrível batalha travada nestes três últimos longos meses. Se a Grécia vier a perder a guerra, é sobretudo a Europa que sairá vencida.
[Publicado originalmente no Observatório da Grécia]
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