28.4.15

A cobertura noticiosa das campanhas eleitorais



Crónica de Diana Andringa, hoje, na Antena 1:

Uma onda de indignação uniu a classe jornalística e os patrões dos media em irada resposta a um anunciado anteprojecto-lei sobre a cobertura noticiosa das campanhas eleitorais. Perante ela, os autores recuaram e a esboçada regulamentação foi atirada para o caixote do lixo da História.

Demasiado depressa, a meu ver. Porque se três deputados ousaram avançar com um texto que, à partida, era susceptível de caír mal na opinião publicada – sobretudo tendo em conta que se tornou conhecido na véspera daquele simpático dia do ano em que o país é percorrido por uma nostalgia democrática – talvez valesse a pena pensar se não o fizeram por um indefinido mal estar perante a forma como são por vezes tratadas as matérias políticas nos órgãos de comunicação. E, sobre isso, seria bom que reflectissem partidos e movimentos políticos e sociais, Comissão Nacional de Eleições, Entidade Reguladora da Comunicação Social, os órgãos de informação, os jornalistas e, claro, todos nós, cidadãos.

Qualquer estudante de Comunicação sabe que não há regulamentação baseada em igualdade de caracteres ou de segundos, separação de “informação” e “opinião”, proibição de “juízos de valor”, que garanta a equidade de tratamento de candidaturas. Basta recordar que a colocação da câmara de filmar, o ângulo de onde é tirada uma fotografia, podem mostrar o mesmo comício como um êxito ou um fracasso, e que 48 anos de Censura Prévia treinaram os jornalistas portugueses a saber como driblar as limitações impostas para mostrar aquilo que se pretendia que não vissem – ou, pelo menos, não dessem a ver. Fosse o ante-projecto avante e bem cedo se tornaria evidente que o plano prévio de cobertura era, para lá de inexequível, ineficaz.

Mas, quando o director-executivo da Plataforma de Media Privados diz “queremos pensar que seria normal que houvesse um desejo comum de que a próxima campanha tivesse uma cobertura completa, sólida, e que os órgãos de comunicação social tivessem todos os meios para que isso se verificasse e para um esclarecimento capaz e completo do eleitorado”, há também que pensar que isso exigiria que as redacções dispusessem dos quadros e das condições necessários a essa cobertura – em vez de se debaterem com a diminuição do número de profissionais, a ênfase nas tiragens e/ou audiências, a exigência de maior – e absurda – velocidade, pondo em causa a necessária reflexão profissional e deontológica.

É também por aí que passam a equidade e a qualidade, não só da cobertura das campanhas eleitorais, mas de toda a actividade dos media.

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