29.12.09

Lá longe, muito a Oriente














A notícia é de ontem: cerca de 4.000 pessoas da etnia hmong estão a ser repatriadas, contra sua vontade, da Tailândia para o Laos.

Importa recuar um pouco para enquadrar a notícia. Durante a guerra do Vietname, mais concretamente em 1962, os Estados Unidos recrutaram hmongs para combaterem a presença de soldados vietnamitas no Laos, numa operação financiada pela CIA, que ficou conhecida como «Guerra Secreta». Com a retirada americana em 1975, foi suspensa toda a ajuda aos hmongs que passaram a ser considerados como traidores no seu país quando o partido comunista tomou o poder.

O governo do Laos nunca deixou de perseguir os membros desta etnia, que ao longo das décadas foram fugindo para onde puderam - sobretudo para a vizinha Tailândia. Têm aí o estatuto de «emigrantes economicamente ilegais», e não de refugiados, e vivem numa espécie de campos-prisão, em situações humanitárias preocupantes.

Ontem, o exército tailandês começou o repatriamento para o Laos, em cem autocarros, numa operação unanimemente condenada pela opinião internacional que considera que muitos teriam direito, sem qualquer espécie de dúvida, ao estatuto de refugiados. Todos os apelos para que a acção fosse suspensa (da ONU, do ACNUR de Guterres) foram inúteis e experiências anteriores de repatriamento levam a crer que este não se fará sem sequelas.

É terrível a história do sudoeste asiático, massacrado com guerras, ou entre vizinhos ou contra colonizadores e «protectores» ocidentais. Trinta e quatro anos depois de se verem abandonados por quem os utilizou, estes milhares de pessoas e as suas famílias são agora re-exportados para onde não querem – quase como coisas indesejadas ou animais que não são de estimação. Ontem, vítimas de guerras de outrem, hoje vítimas de uma ditadura mais ou menos corrupta.

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