«António Oliveira Salazar não escrevia cartas de compromisso. Outros faziam-no por ele. No tempo em que o Barings ainda funcionava como o FMI desses tempos, emprestando dinheiro a Portugal em tempos de crise, em 1934, mas em que as relações estavam tremidas, o banco britânico enviou uma carta ao Director-Geral do Ministério das Finanças dizendo que um dos seus directores, Evelyn Baring, iria estar daí a umas semanas em Lisboa, vindo da América do Sul. A ideia era que ele se encontrasse com Salazar. Com antecipação, a Direcção-Geral escreveu ao Barings dizendo que Salazar gostaria de receber Evelyn, "se estiver melhor da sua doença". Nunca o recebeu.
Não se vê Passos Coelho a dizer que receberia Subir Lall se estivesse melhor de uma constipação. Não há hoje subtileza ou inteligência política para isso. (...)
As cartas de intenções são declarações de amizade eterna. Nas entrelinhas (ou em documentos que não têm de ser divulgados) ficam selados os verdadeiros compromissos. Escritos em tinta invisível. Com Portugal, o FMI sabe o que conta: vai vir cá até pagarmos a nossa dívida. Em caso de dúvida, o país está amarrado ao Tratado Orçamental. A carta de intenções é uma história da Carochinha. Serve para fazer comícios eleitorais. A realidade ficará na sombra. Até ser inscrita no OE de cada ano.»
Fernando Sobral, no Negócios.
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