«Mais de 30 tailandeses morreram nos ataques de 7 de outubro. Feridos são 16. E reféns são 19. Na fronteira com o Líbano, a norte, dois tailandeses foram feridos num ataque do Hezbollah, ou das milícias que se confundem com o Hezbollah. Números, para certas cabeças os números são mais importantes do que o sofrimento, a desumanização e a irracionalidade. Todos vieram da Terra dos Mil Sorrisos, migrantes em busca de vida melhor. Os mortos, feridos e sequestrados não a encontraram. Encontraram uma terra onde o sorriso é escasso. O povo israelita não é pródigo em sorrisos e em amabilidades de circunstância. (…)
Imaginem o choque de um tailandês, nascido e criado na tolerância sorridente do budismo Theravada, aqui chegado e confrontado com as características de um povo especialmente traumatizado que se julga especial, o povo escolhido. E imaginem o choque de um judeu aqui chegado no princípio do século XX, um judeu da Europa Central, refugiado dos pogroms e guerras europeias, nascido e criado dentro dos rigores e da disciplina alemães, amante da ordem e da liturgia da ordem. A uma terra de areia, poeira e calor, a uma terra onde os árabes eram a maioria dos ocupantes da terra, a uma terra de suor e trabalho, onde tudo teria de ser inventado pela primeira vez depois do êxodo e o exílio dos judeus.»
Clara Ferreira Alves (a partir de Israel)
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