14.8.15

O vazio nacional



«Por estes dias a política portuguesa resume-se à acção dos coladores de cartazes. Colocam novos para substituir os que ou usaram pessoas que não deram autorização para serem porta-vozes de um partido ou pessoas que talvez não saibam onde é Portugal apesar de opinaram sobre ele. (...) É certo que, nestes tempos de crise, a verdade é uma coisa impopular, mas a classe que deseja o poder deveria discutir coisas mais importantes do que cartazes. (...)

Notoriamente, é visível a bancarrota de ideias na política portuguesa, como se Portugal tivesse apenas de tentar não se molhar muito entre as gotas de chuva da crise europeia, a dívida brutal e o pagamento impossível desses compromissos sem pôr em causa qualquer melhoria das condições de vida dos portugueses nos próximos, e largos, anos. É certo que esta é a era do vazio ideológico e do colapso do pensamento. (...)

A questão é que, numa Europa que vai cavando a sua sepultura, temos à porta o capitalismo sem democracia (como na China ou na Rússia) e isso empolga muitas mentes. Afinal a democracia foi emprateleirada na Grécia com requintes selvagens e não pára, como se está a ver nas "reticências" alemãs ao acordo leonino com Tsipras. Em Portugal, a política perdeu autonomia para actuar em benefício do conjunto da sociedade e parece estar contente com isso. Ao mesmo tempo que parece diminuída pela corrupção e pela extinção do pensamento. O problema é que o vazio ocupou a política portuguesa. Nem sequer alternativas credíveis surgem no horizonte, nem que seja para agitar os ânimos, como sucede na Europa em todas as áreas políticas. Tudo se reconduz à qualidade e à autenticidade dos cartazes. Isso diz bem para onde caminhamos.»

Fernando Sobral

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