«Durante milhares de anos o homem tentou dominar o fogo. Mas nunca o conseguiu. O fogo pode ser purificador e regenerador, como foi sempre visto em muitas filosofias e religiões, mas a sua capacidade destruidora é arrasadora. (...) Enquanto a classe política nacional faz piruetas sobre o nada, o país volta a arder sem compromissos, indiferentes a governos estáveis e maioritários. (...)
Fica clara uma coisa: há anos que falamos na quantidade sempre reforçada dos meios de reacção ao fogos, mas apesar de se dizer que o problema é sempre da falta de prevenção, nada de concreto se faz. O fósforo continua sempre aceso à espera do momento propício, enquanto os responsáveis falam para marcar presença. Não há resposta política a sério, porque todos estão mais interessados na intriga lisboeta. Falta ordenamento do território, limpeza e fiscalização a sério das florestas, uma estrutura de combate eficaz onde a maioria são voluntários. Falta vontade de fazer. Em Lisboa todos ficam muito chocados com as imagens na televisão. Mas, no país real, fica o deserto total.»
Fernando Sobral
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