16.4.10

Islândia, um país improvável


Há pouco mais de vinte anos, não conhecia ninguém que tivesse ido à Islândia e foi com curiosidade que fui lá parar, durante três ou quatro dias, por motivos mais ou menos profissionais.

Mas confesso que levei tempo a refazer-me da experiência. Disse desde então muitas vezes que, das viagens que fiz e que não foram assim tão poucas, foi certamente a mais desinteressante e que a Islândia é destino que nem ao cardeal Saraiva Martins é justo aconselhar.

Reykjavík é, ou era, uma cidade absolutamente desconcertada, invadida permanentemente por um cheiro a enxofre insuportável (sim, dos tais géisers…), com um centro miserável comparado com o qual a Rua do Comércio no Bombarral fazia figura de 5ª Avenida de Nova Iorque. Do clima, nem vale a pena falar porque chovia todos os dias, se tiritava em Maio e não havia relva que não estivesse ainda negra pelo gelo do inverno. Quanto a comida, salvavam-se os ovos mexidos do pequeno-almoço no hotel, já que, nos restaurantes, toda a desconfiança era pouca porque até um animal mais ou menos aparentado com um pinguim nos foi requintadamente servido.

Em longuíssimas excursões em que não havia rigorosamente nada para ver, os guias paravam para louvar uma florestação de meia dúzia de abetos ou para mostrar uma igreja, reconstruída depois de um décimo incêndio e sem qualquer pretensão ou estilo arquitectónico. Tudo o resto era uma sensação permanente de mergulho em The day after. Sei que há quem goste mas não foi o meu caso, nem o das dezenas de pessoas que me acompanhavam.

Com tanto espaço vazio e agradável no mundo, é verdadeiramente um mistério perceber o que terá levado uns pescadores nómadas a fixarem-se no local mais inóspito do universo e a dele fazerem um país.

E, no entanto: já então se sabia que os islandeses eram ricos, com um PIB de fazer inveja a quase todos os outros europeus, nas ruas viam-se mais carros topo de gama do que peões e, tudo, dos ditos carros às couves, era importado e tinha preços exorbitantes.

De onde vinha o dinheiro? De alguma indústria (pouca), da pesca, sem dúvida (durante muito tempo, que ninguém me falasse em comer salmão, fresco ou fumado…), mas, segundo constava, sobretudo das licenças para a dita pesca, vendidas a tudo o que era país ocidental. E como os islandeses eram poucos, e não gostavam muito de ter filhos, conseguiam assim viver que nem nababos.

A Björk já cantava sem que o soubéssemos então e a Islândia só muito recentemente nos entrou mesmo pela casa dentro como expoente máximo e simbólico da crise que nos apanhou ao virar de todas as esquinas.

E agora, numa espécie de vingança involuntária, paralisa a Europa com as suas cinzas que, aparentemente, nem os incomoda muito localmente. Se conseguissem aquietar o Eyjafjallajökull, nós agradecíamos.
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