«São 22:53 de quarta-feira, 21 de Outubro, estamos todos à espera de Cavaco. Pelo menos, eu estive, até há uns minutos, mas decidi avançar e arriscar fazer a crónica, imaginando que a decisão do nosso PR vai ser um ajuste directo ao Governo do PàF.
Quando escrevo – decidi avançar e arriscar – há um claro exagero da minha parte. Já são muitos anos a ver Aníbal trabalhar e confesso que seria uma enorme surpresa – e comeria o meu chapéu (uso uma pirâmide de gambas na cabeça) – se a decisão do nosso PR fosse outra.
É verdade que Cavaco Silva anunciou à nação, antes das eleições, que era "extremamente desejável que o próximo Governo disponha de apoio maioritário e consistente na Assembleia da República". Aliás, Cavaco Silva parece ser vítima do velho conto "cuidado com o que desejas porque pode acontecer". Provavelmente, o nosso Presidente rezou muito, muito e prometeu ir a Fátima se houvesse uma maioria mas esqueceu-se de excluir os comunistas; pensou que seria óbvio para a Aparecida. (...)
Posto isto, vamos então assumir que o XX Governo Constitucional vai ser entregue à PàF. Perdoem-me o trocadilho, mas será o XXis mais rápido do mundo. Não chega a ser XXis, é um mijinha. A esperança de vida do XX Governo Constitucional só é comparável à das efémeras. As efémeras são uma espécie particular de libelinhas que têm um ciclo de vida que vai dos 30 minutos até às 24 horas, muito raramente chegando aos dois dias de vida. (...)
No fundo, este Governo do PàF vai ser daquelas experiências que a Vida é Bela vendia: venha viver as emoções de ser ministro ou secretário de Estado durante uma semana. Para ser ministro do Governo do PàF, não é preciso pedir licença sem vencimento no actual local de trabalho, basta meter 15 dias de baixa.
Um XX Governo Constitucional do PàF é um conto para entreter crianças. Na realidade, só conta para a estatística, não é para levar a sério, até dá para pôr um cavalo no lugar do Crato, e a educação fica a ganhar. São quinze dias de regabofe assumido dos ex-além-da-troika. Vai servir para tirar fotocópias e roubar esferográficas e rolos de papel higiénico.»
João Quadros
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