16.3.20

Prova de vida



«A resposta aos efeitos da pandemia vai acontecendo de forma mais ou menos enérgica, mas estamos ainda muito longe do tempo em que se fará o balanço sobre a eficácia das medidas. Como vai sendo assinalado cada vez com mais insistência, estamos perante um problema muito grave e de efeitos potencialmente devastadores sobre a saúde de milhões de pessoas e sobre a economia global. Há mesmo quem diga que este será o maior desastre alguma vez enfrentado no planeta e que a partir daqui nada será igual. Talvez seja cedo para o dizer. Mas nunca será tarde demais se começarmos de imediato a trabalhar concertadamente para atenuar os danos que já estão a ser causados.

Desde logo com a consciencialização individual e coletiva a que estamos obrigados. Comportamentos de risco são inaceitáveis pelo que podem provocar na nossa vida e na daqueles com quem convivemos. Prevenir não é apenas ficar fechado em casa à espera que tudo passe depressa. É também estar disponível para ajudar, para respeitar escrupulosamente os apelos das autoridades, para não tomar atitudes desproporcionadas como a de recorrer aos serviços de saúde por tudo e por nada ou participar no açambarcamento de produtos alimentares, medicamentos e afins. A resposta deverá ser global, mas a sua eficácia depende do contributo individual de cada um.

É também o tempo das instituições públicas e privadas sejam elas municipais, regionais, nacionais, europeias ou mundiais. Dos decisores políticos, da comunidade médica e científica, do setor social, da proteção civil ou das forças de segurança. Mas também dos empresários e dos trabalhadores. Ninguém está verdadeiramente preparado para uma calamidade com estas proporções nem, a não ser em cenários e no papel, a resposta a estas situações foi sequer ensaiada. Por isso é fundamental que a pesada responsabilidade que alguns têm de tomar decisões em nome do interesse coletivo, seja assumida e partilhada por todos. O tempo é de juntar esforços e de unir. De colaboração ativa entre comunidades, investigadores e decisores na procura de respostas e de soluções para os problemas que surgem a uma velocidade alucinante.

A Europa e o mundo têm sido confrontados nos últimos anos com enormes desafios decorrentes da globalização, das ameaças ao multilateralismo, do crescimento dos movimentos nacionalistas e populistas, de correntes de pendor mais liberal que põem em causa o papel dos Estados e, especialmente na Europa, a relevância do Estado social.

Pois chegou o tempo de os Estados e as organizações internacionais fazerem a sua prova de vida, exercendo toda a sua autoridade e assumindo cabalmente o seu papel. É certo que existe uma desconfiança generalizada nas instituições por parte dos cidadãos. Terá chegado a oportunidade de nos demonstrarem que andámos todos enganados e que podemos confiar nos governantes e em todos quantos trabalham para ajudar a tornar o mundo melhor.

E será também o momento de iniciar uma reflexão profunda sobre o mundo em que queremos viver. Se escolhemos o acentuar dos desequilíbrios económicos, culturais e sociais ou se optamos por uma distribuição mais justa da riqueza e das condições de acesso a uma vida digna. Se queremos constituir uma comunidade solidária e interdependente ou se queremos ver erguer mais muros e permitir o surgimento de líderes autocráticos que fomentam o ódio e o isolamento em nome de interesses egoístas e de projetos sem futuro.»

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