«O filósofo Ortega Y Gasset disse, um dia, que o Presidente brasileiro Getúlio Vargas fazia política de esquerda com a mão direita e de direita com a mão esquerda.
Resta lembrar que terminou a sua carreira, de forma coerente, utilizando a mão direita para dar um tiro no lado esquerdo do peito. Não se sabe se o actual Governo pratica esta arte, embora se desconfie que o tentou com a troca da baixa da TSU para subir o salário mínimo. No delirante debate de sexta-feira no Parlamento, ficou-se também com a convicção de que o PSD também tem como referente a política de Getúlio Vargas: que a sua oposição à descida da TSU se baseava apenas na vontade de ser contra a subida do salário mínimo. Para não pôr em causa a sacrossanta "desvalorização interna", ideologia base da política de austeridade que assola os povos cada vez que o relógio de cuco canta em Berlim. (…)
O que sobrou daquilo que alguns referiram ser um debate parlamentar foi um conjunto de irrelevâncias retóricas. Mas ficou evidente que, se o CDS consegue ser uma oposição certeira e elegante, Passos Coelho, desde que deixou de ser primeiro-ministro, anda bastante perdido. Por cada TSU que encontra como fonte de juventude sobram-lhe rugas por causa de escolas como a Alexandre Herculano ou a CGD e o Novo Banco. A sua combatividade face ao aumento do salário mínimo parece pouco própria de alguém que ostenta a bandeira da social-democracia. A pobreza do país e os credores externos não podem explicar tudo. Assim Passos parece muitas vezes um daqueles grupos de tributo aos Yes ou aos U2, que não se afastam do repertório original nem um milímetro. Tornando-se irrelevantes porque não podem competir com o passado dos grupos originais. O que sobra deste pretenso debate foi que Passos ainda não percebeu que este já não é o seu tempo.»
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