Na manifestação de Sábado, um dos factos que mais me impressionou, a mim e a muitas pessoas que ouvi ou com quem falei entretanto, foi a elevadíssima percentagem de pessoas idosas, em comparação com desfiles semelhantes, por exemplo o de 15 de Setembro. Com uma caracterísitica específica: era inequivocamente visível que muitos participantes caminhavam sozinhos, ou com um amigo, e não militantemente organizados como, por exemplo, nos eventos convocados pela CGTP.
Assim se explica talvez muitos comentários que fui ouvindo e que reflectiam o que Daniel de Oliveira escreve hoje no Expresso: «Muitos dos reformados que no sábado foram para a rua participaram na sua primeira manifestação de sempre. Ou seja, passaram pela ditadura, pelo PREC e por toda a democracia sem usarem desse direito. E só agora, com mais de 60 anos de vida e quase 40 de democracia, é que se sentiram empurrados para a rua.» É estranho que, já adultos, não tenham participado no 1º de Maio de 74, nas manifestações quase diárias de entusiasmo com o PREC ou, em sentido oposto, nalgumas bem diferentes, como a da Fonte Luminosa ou a de apoio a Pinheiro de Azevedo? E nem sequer mais tarde, nos anos 80, quando o FMI cá esteve? Sim, é estranho, mas aparentemente verdade.
Saíram agora à rua e é bom que quem de direito – partidos e movimentos sociais – lhes preste mais atenção, de preferência sem paternalismos discriminatórios e bacocos, porque eles são velhos mas não são parvos. Até porque é bom não esquecer, e volto a citar DO, que «num País envelhecido, os reformados são quem decide quem governa».
(Imagem TVI, Cláudia Lima da Costa)
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1 comments:
Houve outro detalhe, para além deste que refere que também estranhei. O proletariado não estava nesta manifestação. A foto é enganadora. Os reformaos eram, como o foi esta manifestação, da classe média. Não estavam lá os manifestantes "tipo" da CGTP, ou pelo menos eram minoritários.
Por outro lado, essas pessoas manifestavam-se com aquilo que me pareceu ser alguma tristeza.
Max
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