«Maria Luís Albuquerque mostrou, há dias, que acredita que tem a inusitada capacidade de transformar rosas em pão. Ou seja, que se fosse ministra das Finanças, distribuiria milagres em vez de impostos e os portugueses estariam agora a fazer um piquenicão.
Esquece, convenientemente, que foi por causa da sua gestão de 2015 que a União Europeia aperta agora Portugal. Ou que a implosão do Banif não surgiu como um meteorito inexplicável. Claro que as declarações de Maria Luís são típicas do Portugal dos Pequenitos que costuma funcionar como fundamento ideológico dos partidos políticos. A culpa é sempre do outro, versão pimba do célebre êxito de Mónica Sintra, "Afinal havia outra". O certo é que Portugal está agora em campo aberto, funcionando como alvo de uma série de atiradores furtivos, que têm assim uma magnífica desculpa para evitar falar dos problemas dos bancos alemães, do défice francês, dos acordos vergonhosos sobre os refugiados ou do Brexit.
Nesse aspecto, os políticos e os burocratas europeus não são diferentes dos seus parceiros portugueses. António Costa é uma das bolas de um jogo de bilhar que ultrapassa o problema português (ou espanhol). Mas agora também de tomar decisões claras: ou se verga às exigências comunitárias ou terá de gritar alto contra elas. E aí será um alvo a abater. Mas esse é também o dilema daquilo a que chamamos o socialismo europeu: ou é alternativa a esta Europa medíocre, ou torna-se um apêndice do PPE.
É claro que se a UE cortar os fundos estruturais corta o que resta de margem de manobra para o investimento (que é inexistente sem eles). É o mesmo que dizer a Portugal: vamos corta-lhes o oxigénio, do qual nunca recuperarão. Nada que admire. Afinal Wolfgang Schäuble parece estar a preparar a Europa a duas velocidades, fora da ineficaz CE: os aliados fiéis manterão o ritmo definido por Berlim. Os outros serão como os anéis de Saturno: servem para enfeitar. Está visível o que se prepara para a UE pós-Brexit. Portugal é só uma desculpa esfarrapada.»
Fernando Sobral
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