Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir nasceu a 9 de Janeiro e faria hoje 111 anos.
Tudo já foi escrito sobre Simone, mas vale talvez a pena recordar o papel decisivo de uma das suas obras: Le Deuxième Sexe. Se esteve longe de ser um manifesto militante ou arauto de movimentos feministas que, em França, só viriam a surgir quase duas décadas mais tarde, a verdade é que os espíritos não estavam preparados para a problemática da libertação da mulher, tal como Simone de Beauvoir a abordou, nem para a crueza da sua linguagem.
As reacções não se fizeram esperar, tanto à esquerda (onde o problema da mulher estava fora de todas as listas de prioridades), como, naturalmente, à direita. François Mauriac escreveu: «Nous avons littérairement atteint les limites de l’abject», Albert Camus acusou Beauvoir de «déshonorer le mâle français».
Esta obra foi certamente uma das maiores «pedradas» que levei como leitora no início da idade adulta. Estudante recém-chegada a Lovaina, com uma mala quase de cartão, ida desta west coast salazaríssima e com dezanove anos – tentem imaginar o cenário. Apanhei então, em cheio, a grande repercussão do livro na Europa francófona.
Para a sua compreensão e consagração terá sido decisivo o sucesso nos Estados Unidos, onde foi publicada em 1953. O movimento feminista, em que Betty Friedman e Kate Millet eram já referências, estava aí suficientemente avançado para a receber. Efeito boomerang: Le Deuxième Sexe «regressou» à Europa no fim da década de 50, com um outro estatuto, quase bíblico, e teve a partir de então uma longa época de glória.
Paralelamente, iam sendo publicadas outras obras da autora, como a trilogia das Memórias – o que mais apreciei de tudo o que dela li e que não foi pouco (Mémoires d’une jeune fille rangée (1958), La force de l’âge (1960), La force des choses (1963)).
Simone de Beauvoir nunca provocou grandes empatias e foi sempre objecto de discussões sem fim sobre a sua importância relativa quando comparada com a de Sartre. Mas, goste-se ou não, estava no centro do Olimpo que Paris era então – quando, no Café de Flore, toda a gente vivia envolta em fumo e Juliette Greco cantava «Il n’y a plus d’après».
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