Os irmãos escolhem-se (Sandra Monteiro)
«Por vezes até surgem cidadãos com responsabilidades públicas e políticas que corporizam esta concepção de que ser democrata é habitar este espaço neutro, horizontal, contraditório e consensual, tolerante até à exaustão, que se quer mimetizado pelos cidadãos-espaço.
O presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa é um desses casos. A sua mensagem de Ano Novo voltou a ser um exemplo de como é possível dizer tudo e o seu contrário, agradar à esquerda e à direita, dificultando qualquer crítica. (…)
E o que dizer das suas declarações sobre o encontro com o presidente brasileiro Jair Bolsonaro? Salientando o «tom fraternal» do encontro, e chamando-lhe uma «reunião entre irmãos», deu uma caução calorosa e de proximidade a um apoiante da ditadura militar e da tortura, que é racista, homofóbico e misógino, e que representa uma formação de extrema-direita enterrada em casos de corrupção. Tudo se desculpa porque podia estar a pensar na «empatia natural»com o povo brasileiro e porque há relações, desde logo comerciais, a preservar? Na democracia-espaço, sim, vale tudo. Na democracia-projecto é que estas posições se combatem. E os irmãos escolhem-se.»
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