No seu texto no Público de hoje, José Pacheco Pereira defende que Trump é sobretudo um louco. Não estou tão certa disso, mas aqui ficam alguns excertos:
«O presidente Trump publicou uma nota no Twitter que começa a atacar a comunicação social e depois acaba abruptamente com uma palavra que ninguém sabe o que significa, ninguém sabe como se pronuncia e ninguém sabe, sequer, se é uma palavra: “Covfefe.”. (…)
Claro que eu me interrogo sobre quanto tempo Trump nos faz gastar para perceber o que é “covfefe”, que ele reafirma ser uma palavra com “significado” e o pobre do Sean Spicer teve de explicar que o “Presidente e o seu círculo mais próximo” sabiam muito bem o que era “covfefe”. Ele, apesar de ser o porta-voz do Presidente, não sabe o que é, visto que teve de fugir de cena com os gritos dos jornalistas a perguntar-lhe o que é que significava. Sim, tenho imensa sensação de tempo perdido — e de artigo perdido, visto que estou a escrever sobre isso — com este “covfefe”, que é uma espécie de gerador de patetice que nos faz também ser patetas. Mas, que raio, ou à Trump, QUE RAIO!!!, ele é Presidente dos EUA e o que diz e o que escreve tem sempre enorme importância, visto que o faz com os mesmos dedinhos com que pode digitar os códigos nucleares. E se ele estiver doido?
Há várias razões para achar que ele não está muito bem da cabeça, como, aliás, vários chefes de governo europeus e do G7 suspeitaram depois de estarem três dias metidos em salas com ele. (…)
Bom, podemos considerar que estamos perante um megalómano, mitómano, narcisista, ignorante, preguiçoso, bruto, mentiroso, amoral, desprovido de qualquer percepção de que o mundo exterior aos seus desejos existe e é de natureza distinta, ou seja, cuja relação com a realidade é quase nula, o que tem um nome bastante parecido com doido. Poder imaginar podemos. Basta ler os tweets para perceber que esta descrição é tão rigorosa como exacta e que, se pecar por alguma coisa, é por defeito, mas pode dizer-se que daí a doido vai alguma diferença. Talvez, mas esta diferença está a reduzir-se, até porque o homem se sente acossado. (…)
São alguns marxistas os que encontram em Trump mais racionalidade, o que não deixa de ser irónico. Eles acham que Trump tem um moinho e leva a água ao seu moinho, sejam quais forem as “distracções”. O moinho são os seus interesses e os dos seus amigos bilionários que trouxe para o Governo, e os defensores desta tese na esquerda marxista vêem todas as acções de Trump como paradigmáticas do carácter selvagem do capitalismo americano, de que ele seria o principal instrumento. Há dias, como o de hoje, em que os célebres “mercados” parecem validar estas teses, dando às mais absurdas medidas de Trump a racionalidade da Bolsa. E ele corre feliz para o Twitter a escrever aqueles fabulosos auto-elogios e a citar o seu eco, a Fox News: “Wall Street atinge recordes depois de Trump sair do Acordo de Paris.” Isto implica que há quem esteja a ganhar muito dinheiro com Trump, por muito conspiratórias que sejam as teorias que explicam as suas acções. E esses não são doidos.
O problema é que o barco onde Trump navega à vista é um lugar perigoso. É-o para nós, mas é também para ele e para os que com ele vão, como os republicanos começam a perceber. É verdade que Trump tem ajudado a impulsionar a agenda mais radical da direita (a deles e a nossa), mas há uma profunda inconsistência e um impulso autodestrutivo — o melhor exemplo é o Twitter de Trump — que mantém a democracia americana debaixo de uma tensão sem precedentes. E aí Trump está a perder, como se vê em todas as sondagens, mesmo as da Fox News. A perder substantivamente em matérias em que estava a ganhar, como a segurança social e o sistema de saúde dos americanos mais pobres, muitos dos quais foram seus eleitores. E, como a criação de emprego e as melhorias económicas estão longe de lhe poderem ser atribuídas — vinham já da Administração Obama —, os efeitos destrutivos acabam por se impor quer internamente, quer num mundo em que, com excepção dos seus ditadores preferidos e dos sauditas de espada desembainhada, Trump é uma espécie de pária, tão perigoso como ridículo.
Têm a certeza que ele não se veste de Napoleão, mete a mão na jaqueta e se olha ao espelho no meio dos torcidos e tremidos dourados de Mar-a-Lago? Ou de Putin? Ou de Erdogan? Ou até desse “rapaz” Kim Jong-un, com cujo “peso” de responsabilidades juvenis ele sentiu uma genuína empatia dizendo que ficaria “honrado” em encontrar-se com ele? Eu não tenho. E já agora “covfefe” para Trump!»
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