30.5.17

Quem matou Laura Palmer?



«No final da segunda série de "Twin Peaks", Laura Palmer prometera ao agente Dale Cooper que se voltariam a encontrar 25 anos depois. É o que acontece agora, com o regresso do mundo enigmático e confuso de "Twin Peaks".

Quase tão labiríntico como o da política de Donald Trump. Se Dale Cooper é agora um "serial killer" possuído pelo espírito de Bob (a criatura que controla os homens, a coisa que matou Laura Palmer), resta a dúvida: quem é o Bob de Donald Trump? Afinal, como diz uma personagem no primeiro episódio deste regresso de "Twin Peaks": "Este é um mundo de camionistas." O problema é que Trump não faz parte de uma ficção saída da cabeça de David Lynch e de Mark Frost. É uma realidade colocada na Casa Branca pelos americanos ressentidos com o mundo que os rodeia e de que têm medo. Há um ponto em comum: se em "Twin Peaks" qualquer narrativa linear é quase impossível de encontrar, no discurso de Trump sucede o mesmo. Perdemo-nos entre os seus tweets e os seus gestos grotescos. Bob deve saber o que está a fazer quando aceitou possuir Trump.

Em Trump não há sinais da teoria da evolução. Darwin teria dificuldades em explicar o que se vê. Tal como Emmanuel Macron ou Angela Merkel, defrontados com o homem que depois da dança com espadas na Arábia Saudita se julga Lawrence das Arábias. Ou do mundo. Macron percebeu o Hulk desproporcionado que há em Trump. Para ele, o aperto de mão foi "um momento da verdade". Já Merkel percebeu o óbvio: acabou uma era. No fim-de-semana disse: "A era em que poderíamos depender completamente de outros acabou de alguma maneira. Foi o que verifiquei nos últimos dias." Merkel não costuma gastar palavras em vão. Viu o filme de terror: a aliança transatlântica está a esfumar-se e a Europa vai ter de contar consigo própria, na política, na economia ou na defesa. Esta não é uma ficção de Lynch: a Europa ou se une ou torna-se irrelevante. No final não se vai perguntar: quem matou Laura Palmer? Já se sabe. Está, acompanhado pela família e por Bob, a fazer dislates na Casa Branca.»

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