Estou certa de que muitos dos que têm agora 20 ou 30 anos, e que andam pelas ruas em tantas manifestações, dentro de três décadas se recordarão dos locais, das pessoas, de detalhes sem importância, das cores e até dos cheiros, sem conseguirem lembrar-se do motivo exacto que os levou a protestar ali, naquele dia, amalgamando causas, lutas e datas. Pode parecer-lhes neste momento impossível que isto venha a acontecer, mas garanto que não é, mesmo que tenham uma memória prodigiosa.
Aqueles de nós que andam nisto há muitos anos, reviveram uma vez mais esta experiência, há poucos dias, quando regressaram a Belém para «saudarem» a reunião do Conselho de Estado. Todos se recordavam de uma outra grande manifestação, ali mesmo, em tempos de PREC, mas sem conseguirem caracterizá-la. E embora no meu calendário da memória ela estivesse mais ou menos bem datada, deu-me algum trabalho a acertar, mesmo recorrendo ao Google. (E lembro-me de tudo, até da terrível fome que só conseguimos matar às tantas da noite...)
Foi em 1975, cinco dias antes do 25 de Novembro, não acabou tão tarde como a deste ano mas também foi longa. Contra o quê? Contra o VI Governo Provisório de Pinheiro de Azevedo (que entrara em greve...), em resposta a um apelo das Comissões de Trabalhadores da Cintura Industrial de Lisboa, com o apoio da Intersindical, PCP e FUR, para exigir um governo «verdadeiramente revolucionário». (Em vão, como o futuro muito próximo viria a demonstrar...)
O país é o mesmo, sim. Mas ainda bem que a presciência é apanágio dos deuses e dos magos ou teríamos desistido, há 37 anos, se nos tivesse sido permitido ver o filme dos acontecimentos de 2012. Mas não foi o caso e por isso continuámos – e continuamos.
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1 comments:
Há revoluções, e revoltas que não são revolução.
Os jovens hoje vivem só e apenas uma revolta.
Comparar é difícil.
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