8.10.12

Aquilino Ribeiro Machado



Morreu ontem. Não o conheci intimamente, mas encontrava-o por vezes em casa de um amigo comum, Edmundo Pedro, com quem ele partilhava o piso de um mesmo prédio. Já fisicamente frágil nos últimos anos, mas sempre firme nas ideias e muito directo na expressão das mesmas. Recentemente, o Facebook pôs-nos a dialogar com alguma frequência. 

No dia 25 de Setembro, publicou este último post
Nuvens de tormenta 
O povo desceu à rua no passado dia 15 para expressar o seu mal-estar, a sua desilusão e a sua profunda revolta contra a politica anticrise pertinazmente levada a efeito pelo governo, que conforme toda a gente já se apercebeu conduziu apenas a um agravamento da situação. A insistência em prosseguir com a mesma receita e a falta de maleabilidade do poder para ouvir aqueles que passivamente o não acatam, ou lhe não cantam loas, está a gerar um clima de profunda irritação e uma sensação de encurralamento que pode levar à percepção de que a violência será a única e inevitável saída. As manifestações hoje em Madrid obedeceram à mesma lógica e de ambos os lados da fronteira parece evidente a rejeição de todos os políticos em geral. Porém a rejeição de todo o poder constituído é um risco letal. A nostalgia de uma ordem e de uma chefia firmes diz-nos a história que leva ao totalitarismo e à submissão a uma ordem forte e regeneradora. Contra este risco há que restituir a esperança ao povo. Se não se mostrasse tão acomodatício, esse papel caberia agora ao Partido Socialista. Infelizmente ele teima em ensimesmar-se num cálido distanciamento. 

E escolho uma dos muitos comentários que me deixou, em posts publicados no meu mural: 
«A democracia cada vez se assemelha mais, entre nós, a uma velha mangueira carregada de água, que aqui está cheia de bossas e à frente magrinha pelo fluir menos afogado da corrente que a atravessa. Quer no sitio das bossas quer no dos estrangulamentos, ameaça, a todo o momento, rebentar.» 
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2 comments:

Helena Araújo disse...

Joana,
obrigada por este post.
(muitos outros há para agradecer, mas agradeço este, et pour cause)

Joana Lopes disse...

Obrigada, eu, Helena, pela sua companhia, já longa, nestas lides...