Morreu ontem. Não o conheci intimamente, mas encontrava-o por vezes em casa de um amigo comum, Edmundo Pedro, com quem ele partilhava o piso de um mesmo prédio. Já fisicamente frágil nos últimos anos, mas sempre firme nas ideias e muito directo na expressão das mesmas. Recentemente, o Facebook pôs-nos a dialogar com alguma frequência.
No dia 25 de Setembro, publicou este último post:
Nuvens de tormenta
O povo desceu à rua no passado dia 15 para expressar o seu mal-estar, a sua desilusão e a sua profunda revolta contra a politica anticrise pertinazmente levada a efeito pelo governo, que conforme toda a gente já se apercebeu conduziu apenas a um agravamento da situação. A insistência em prosseguir com a mesma receita e a falta de maleabilidade do poder para ouvir aqueles que passivamente o não acatam, ou lhe não cantam loas, está a gerar um clima de profunda irritação e uma sensação de encurralamento que pode levar à percepção de que a violência será a única e inevitável saída. As manifestações hoje em Madrid obedeceram à mesma lógica e de ambos os lados da fronteira parece evidente a rejeição de todos os políticos em geral. Porém a rejeição de todo o poder constituído é um risco letal. A nostalgia de uma ordem e de uma chefia firmes diz-nos a história que leva ao totalitarismo e à submissão a uma ordem forte e regeneradora. Contra este risco há que restituir a esperança ao povo. Se não se mostrasse tão acomodatício, esse papel caberia agora ao Partido Socialista. Infelizmente ele teima em ensimesmar-se num cálido distanciamento.
E escolho uma dos muitos comentários que me deixou, em posts publicados no meu mural:
«A democracia cada vez se assemelha mais, entre nós, a uma velha mangueira carregada de água, que aqui está cheia de bossas e à frente magrinha pelo fluir menos afogado da corrente que a atravessa. Quer no sitio das bossas quer no dos estrangulamentos, ameaça, a todo o momento, rebentar.»
.
2 comments:
Joana,
obrigada por este post.
(muitos outros há para agradecer, mas agradeço este, et pour cause)
Obrigada, eu, Helena, pela sua companhia, já longa, nestas lides...
Enviar um comentário