13.8.24

Os jovens não estão a envelhecer bem

 


«O estudo que divulgamos hoje da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) sobre idadismo no local de trabalho é um contra-senso em relação às discussões que costumamos ter sobre idade. O que é habitual nas sociedades ocidentais é que o termo idadismo esteja principalmente relacionado com o preconceito em relação a quem é mais velho e não em relação a quem é mais novo. Por essa razão, os resultados deste estudo acabam por ser surpreendentes.

Interrogados sobre se já sentiram algum tipo de discriminação moderada ou grave no emprego por causa da idade, 42,3% dos trabalhadores entre os 18 e os 35 anos relataram níveis moderados ou elevados de discriminação em função da idade, que só foram referidos por 28,6% dos trabalhadores de meia-idade e por 25,6% dos trabalhadores mais velhos.

Os “jovens são o futuro”, ouvimos regularmente, numa sociedade em que, genericamente, os padrões de beleza, de dinâmica, de ambição, de inovação, estão quase sempre associados à juventude, e seria de esperar que, de alguma forma, isso aparecesse reflectido também no mundo laboral.

Mas aquilo para que aponta o trabalho da FFMS é que há muitos jovens a viverem o presente com uma sensação de injustiça motivada por estereótipos, o que tem impacto na sua saúde mental e que pode prejudicar a sua actividade profissional.

O estudo deixa-nos perante mais interrogações que certezas, mas com uma ideia positiva e uma perspectiva negativa. As interrogações são especialmente sobre como estão a funcionar os nossos espaços de trabalho. Será que existe um bloqueio ao que é novo e que pode ser mais disruptivo? Temos estruturas demasiado hierarquizadas onde a experiência é sobrevalorizada em relação ao conhecimento? O mérito é suficientemente ponderado nas escolhas que são feitas ou as estruturas são avessas às mudanças?

A ideia positiva é que, apesar de tudo, o estudo revela que, em média, os trabalhadores portugueses relatam "níveis relativamente baixos" de discriminação etária. Um contraponto, se considerarmos que para os mais novos se perspectiva uma situação ainda mais agreste no futuro. Somos um país em que, até 2050, mais de um terço da população deverá ultrapassar os 65 anos, o que resultará em carreiras profissionais mais longas e, previsivelmente, maiores bloqueios para a progressão dos mais jovens.

Quando uma geração já sofre tanto em áreas cruciais da sua vida, como no acesso à habitação, este estudo é um sinal de alerta, que deve obrigar a reforçar o diálogo intergeracional, se queremos sociedades mais coesas, que beneficiem, sem preconceitos, do melhor de cada um.»


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