21.7.16

Humphrey e a banca



«Num dos diálogos típicos de "Sim, sr. Ministro", Jim Hacker perguntava: "Humphrey, consideras, como parte da tua função, que deves ajudar os ministros a fazer de tolos"? E Humphrey respondia, com um sorriso nos lábios: "Bem, nunca encontrei um que precisasse de qualquer ajuda." Nos dias que correm a tolice tornou-se global. E, segundo parece, deixou de ser um motivo de vergonha. Há quem pareça orgulhoso do seu défice de lucidez. Olhemos para um caso simples. Com uma ligeireza arrepiante, o FMI faz de ministro tolo: consegue colocar na mesma balança o buraco do sistema financeiro italiano (que ascenderá a cerca de 360 mil milhões de euros) e o do português (talvez 20 mil milhões). Como se estivesse num concurso de cocktails mistura sabores diferentes e julga que o resultado final é igual. Podemos dar o desconto: muito provavelmente os técnicos do FMI não conhecem Portugal ou Itália (ou só os identificam no Google Maps). Não têm a noção do que seria a influência na Europa (ou no mundo) se o sistema italiano colapsasse ou se, em alternativa, isso sucedesse com o português.

É comparar Hulk com Peter Pan. Como se nunca tivesse passado por aqui, como integrante da ínclita troika, o FMI só agora reparou no problema da banca portuguesa. Deixou-nos, com todo o seu conhecimento e rigor, um belo Cavalo de Troika.»

Fernando Sobral

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