Quem não está especialmente próximo de iniciativas de auditoria cidadã à dívida tem tendência a julgar que estas nascem e se desenvolvem, exclusivamente, em países intervencionados pelo FMI e outras instâncias. Pensa-se imediatamente na Argentina, no Equador e, mais recentemente, na Grécia, Irlanda e Portugal.
Mas, desde a crise de 2007-2008, é toda a Europa que está ameaçada pelo discurso que culpabiliza as populações de viverem acima das possibilidades, mal para cujo remédio só restaria a receita da austeridade geral, dos sacrifícios, da deterioração do nível de vida. Tudo em nome da sagrada obrigação de pagar toda a dívida aos credores.
É por isso que devem ser atentamente seguidas experiências como a da França, cujo Colectivo para uma Auditoria Cidadã à Dívida Pública, criado no Verão de 2011, está neste momento particularmente activo.
Em Janeiro de 2012, numa assembleia convocada pela ATTAC e por Mediapart, em Paris, mais de 1.100 pessoas (numa sala prevista para 700…) discutiram o tema «A sua dívida, a nossa democracia». E vale aliás a pena olhar para a Agenda do que aí vem…
Lançada a nível nacional, a iniciativa expandiu-se rapidamente por todo o território francês, tendo sido criados espontaneamente comités locais – 110, até início de Março. Formam-se subgrupos de trabalho para criar informação a nível global ou iniciar auditorias às dívidas contraídas pelas colectividades locais, hospitais e outros organismos e preparam-se acções de rua. Toma-se consciência da necessidade de reapropriação democrática do poder de decisão confiscado pelos credores e pelos mercados financeiros, para que, de uma vez por todas, se quebre o tabu ligado à discussão sobre o reembolso incondicional da dívida pública.
(A partir daqui.)
A ler: Auditoria Francesa contra o Pacto Orçamental
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