30.8.08

«Não podemos ignorar»













Por razões várias, acordei hoje a pensar em amigos católicos que, em marginalidades difíceis, continuam a afirmar que «também são Igreja».

Ao contrário do que acontece com outras ortodoxias, muitos de nós, ex-católicos e uns tantos compagnons de route que ainda mantêm crenças e rituais, não nos zangamos nem andamos a zurzir-nos uns aos outros em posts ou Caixas de Comentários (não estará talvez nos nossos ADN’s...). E acreditem os incréus de nascença e os ex ou actuais militantes de outras «ideologias» que as nossas não eram mais fracas nem menos profundamente estruturantes.

Talvez por isso admire a coragem do padre Anselmo Borges, quando escreve hoje no DN:

«Em Dezembro passado, [o papa] recusou conceder uma audiência ao Dalai Lama e, aquando da repressão brutal no Tibete, foi lento na condenação, de tal modo que um ministro italiano denunciou o "excesso de Realpolitik". Abençoou os Jogos e, nas férias, visitando o túmulo de um antigo missionário na China, referiu-se ao país como "cada vez mais importante na vida política, económica e também na das ideias", sendo, por isso "importante que este grande continente se abra ao Evangelho".»

Leio também algures que Bento XVI parece ter medo que os céus lhe caiam em cima (homem de pouca fé, portanto...).


Dei demasiado valor, no passado, ao significado da pertença a uma comunidade global – que não excluía papa, bispos e toda a panóplia que lhes está associada – para afirmar que nada do que está subjacente ao que o padre Anselmo escreve tem qualquer importância.

Por isso, tenho dificuldade em entender uns e outros que parecem conviver melhor ou pior com estas realidades, mas admiro-lhes sinceramente a frontalidade. E se optarem um dia por sair, façam-no devagar, sem bater de portas e vão ver que não custa assim tanto. Mas se decidirem ir ficando, então coragem – só isso.


Francisco Fanhais, Cantata pela Paz, Vígília na igreja de S.Domingos, 1/1/1969

2 comments:

José Manuel Pureza disse...

A Maria de Lurdes Pintasilgo era uma apaixonada pela imagem da "Igreja do limiar" do teólogo Yves Congar. Assim: "Gente que passa junto ao limiar a igreja, uns pensando-se de fora, outros pensando-se dentro. Mas também aqui a fronteira não existe. é um limiar e, só porque por ele passam (pelo facto de existirem naquela cidade, naquele planeta Terra, no mundo), só por isso o que é transcendente diz-lhes respeito. A diferença entre uns e outros não é redutível a 'acreditar' ou 'não acreditar' (...) Por um lado, os que tentam seguir Jesus Cristo fazem-no porque vêem nele o caminho para Deus. Por outro lado, os que amam os mais fracos de entre os fracos são os que estão perto de Deus. Não há uma fronteira visível na humanidade, separando a comunidade dos cristãos da comunidade de toda a humanidade"
Um abraço, Joana.

Joana Lopes disse...

Eu podia assinar por baixo, José Manuel, mas nem por isso veria dissipadas umas tantas perplexidades.
Claro que «não há uma fronteira visível na humanidade, separando a comunidade dos cristãos da comunidade de toda a humanidade» - precisamente porque todos somos homens, certo?
Um abraço