Tão maltratada, tão empobrecida – agora tão disputada.
Hoje lembrei-me do José Cardoso Pires que amou tanto esta cidade.
«Logo a abrir, apareces-me pousada sobre o Tejo como uma cidade de navegar. Não me admiro: sempre que me sinto em alturas de abranger o mundo, no pico dum miradouro ou sentado numa nuvem, vejo-te em cidade-nave, barca com ruas e jardins por dentro, e até a brisa que corre me sabe a sal. Há ondas de mar aberto desenhadas nas tuas calçadas; há âncoras, há sereias. O convés, em praça larga com uma rosa-dos-ventos bordada no empedrado, tem a comandá-lo duas colunas saídas das águas que fazem guarda de honra à partida para os oceanos. Ladeiam a proa ou figuram como tal, é a ideia que dão; um pouco atrás, está um rei-menino montado num cavalo verde a olhar, por entre elas, para o outro lado da Terra e a seus pés vêem-se nomes de navegadores e datas de descobrimentos anotados a basalto no terreiro batido pelo sol. Em frente é o rio que corre para os meridianos do paraíso. O tal Tejo de que falam os cronistas enlouquecidos, povoando-o de tritões a cavalo de golfinhos» (*).
(*) José Cardoso Pires, Lisboa – Livro de Bordo, D. Quixote, Lisboa, 1997, p.7
1 comments:
Já que se fala de Lisboa; eu penso que à cidade tem sido dedicado um número enorme de belíssimas canções (para além das tradicionais temos também Carlos do Carmo, Ary, Sérgio Godinho,etc, etc).
Eu não conheço caso identico com excepção de Paris. Estarei equivocado ?
Um dia alguém se dedicará ao inventário...
Enviar um comentário