Em 9 de Setembro de 1973, numa reunião clandestina com 136 participantes, que teve lugar no Monte Sobral em Alcáçovas (Viana do Alentejo), nasceu o «Movimento dos Capitães», mais tarde renomeado «Movimento dos Oficiais das Forças Armadas» e, finalmente, «Movimento das Forças Armadas».
Em mensagem enviada hoje aos sócios da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço assinala a data, ao mesmo tempo que recorda um texto que escreveu um ano mais tarde, em 9 de Setembro de 1974, e que foi publicado no nº1 do «Boletim do MFA»: «A Picadela
no Elefante Adormecido» Nele se encontram descritos vários passos que precederam o 25 de Abril, desconhecidos por muitos, esquecidos por outros.
A PICADELA NO ELEFANTE ADORMECIDO
Em que data começou o Movimento das Forças Armadas? Parece-nos desnecessário
falar, numa altura destas, das condições existentes, em Portugal, por meados do ano de
1973 e que possibilitaram o eclodir do MFA. Já se falou tanto do assunto que o que
interessa, por agora, é evitar o regresso a tal situação!...
Pois, como íamos dizendo, em que data começou o. Movimento das Forças Armadas?
Várias respostas têm surgido para esta pergunta, dadas inclusivamente por homens dos
mais responsáveis no próprio MFA: desde a reacção de um grupo de oficiais ao
Congresso dos Combatentes, inicialmente organizado com boas intenções, mas
rapidamente aproveitado pelo governo fascista para mais uma farsa, até à reunião
efectuada na zona de Évora por um grupo de capitães e subalternos do Quadro
Permanente, passando pela ida de uma comissão de majores ao director do Serviço de
Pessoal (com apresentação do respectivo memorando) ou pelo envio de um abaixo
assinado, aos então Presidentes Tomás e Caetano, pelos capitães em serviço na Guiné,
cada um procura explicar o facto, segundo os seus pontos de vista. Todos têm a sua
justificação, mas, como não podia deixar de ser, uma data é apontada, na generalidade,
como o símbolo do início do MFA. Mais propriamente, como o marco de início do
Movimento das Forças Armadas. É essa data o dia 9 de Setembro de 1973. E porquê
essa e não qualquer das outras? É isso que em seguida tentaremos justificar.
Após a saída do decreto-lei n.º 353/73, várias reacções ao mesmo tempo se verificaram:
ida de uma comissão do EPOSA, que se desenrolava em Pedrouços, ao director do
Serviço de Pessoal; várias reuniões particulares de oficiais do Q.P. entrega de
exposições -reclamações sobre o assunto, dirigidas ao Ministro do Exército, etc., etc.
Tiveram estas reacções como resultado o aparecimento de um novo decreto-lei (n.º
409/73), que, não resolvendo o assunto e, antes pelo contrário, exaltou ainda mais os
ânimos em relação aos governantes fascistas. Apareceu, após isso, a exposição enviada
de Bissau e assinada por 51 capitães do Q.P.
Mas eis que alguns jovens capitães, conscientes do valor da arma que o governo fascista
lhes punha nas mãos, resolveram de imediato aproveitar a mesma e não desperdiçar,
portanto, mais essa ocasião (haviam de ser, posteriormente, acusados por outros -
felizmente poucos - de não terem ido para Évora a pensar somente nos decretos!...).
Resolveram reunir-se e, para o efeito, convidar os capitães e subalternos conhecidos que
pudessem oferecer um mínimo de confiança no que respeitava a possível interesse e
segurança.
Conseguiram a cedência de um monte alentejano, na zona de Évora, pertencente a um
familiar de um dos capitães e aí vão eles para a reunião. Apesar de todas as deficiências,
de uma organização improvisada e clandestina, acabaram por reunir-se 136 capitães e
subalternos (do Exército e pára-quedistas) e assim nasceu o chamado MOVIMENTO
DOS CAPITÃES.
Foi a primeira manifestação, aberta e colectiva, na Metrópole, que então se deu. Nela
surgiu a primeira Comissão Coordenadora, com origem na Comissão Organizadora da
Reunião e, embora tivesse havido toda uma série de acontecimentos, que antecederam
a referida reunião, bem podemos considerá-la como o verdadeiro início do Movimento
dos Capitães, o qual, posteriormente, se transformaria em MOVIMENTO DAS
FORÇAS ARMADAS.
Foi, não há dúvida, e segundo a opinião de um dos jovens capitães que a organizaram,
a Picadela no Elefante Adormecido, e daí, a sua importância em todo o processo que
teve a sua eclosão no 25 de Abril.
Daí, a escolha da data de 9 de Setembro para o início da publicação deste boletim
informativo, para o qual pedimos a colaboração de todos os militares, e esperamos
possa a vir a constituir mais um elo de ligação e união entre todos os que se
comprometeram a levar até ao fim o integral cumprimento do Programa do Movimento
das Forças Armadas.
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3 comments:
O MFA, militares do Estado Novo, bem preparados e bem formados, fizeram um 25 de Abril dentro de uma disciplina e uma ordem dignas do comportamento que tinham demonstrado durante os 13 anos de guerra colonial.
A sociedade cívil do 26 de Abril comandada por portugueses "indisciplinados" "desordeiros" e irresponsáveis, fizeram o que sabemos: esta galhofa!
Precisamos outro 26 de Abril, que o 25 foi maravilhoso.
Sem o MFA, a democracia teria demorado muito mais tempo a chegar e o nosso desespero não imagino onde teria ido dar. VIVA O MFA!
Fernando Oliveira
Nota ligeira:
Certamente ninguém imagina que a marcha do MFA, emitida logo nesse dia a separar comunicados, fosse criação portuguesa. Mas talvez não conheçam a sua história e até o seu grande uso prévio em Portugal. É uma marcha dos fuzileiros reais britânicos, “A life on the ocean wave”, de Henry Russell, em meados do século XIX. É muito tocada pela banda dos Royal Marines e é a marcha oficial da academia americana da marinha mercante.
O que alguns desconhecerão é que centenas de cadetes da Reserva Naval portuguesa, como eu, a seguir à parada do meio dia de cumprimento ao comandante da Escola Naval e a caminho do refeitório, marchávamos ao seu som, com a excelente Banda da Armada a tocar.
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