17.8.17

O discurso pimba



«Alguns têm um enorme desgosto que Constança Urbano de Sousa não seja a agente Atomic Blonde do Governo. Lamentavelmente, Constança não tem perfil nem genica para isso e funciona mais como uma dupla de ministra.

Nada que admire neste país que caminha a passos rápidos para a desertificação da sua fauna e flora. A cultura política está agora ao nível da aquacultura: desenvolve-se em cativeiro. E assim não surpreende a vertiginosa descida aos infernos da política nacional. Não é preciso falar daquele fantasma que o PSD despejou em Loures e que só causa calafrios porque um partido sério incorporou no seu discurso uma deriva populista enervante. Mas como os dislates se tornaram um dever, a acreditar nos principais partidos nacionais, lê-se o que diz a cantora Ágata, candidata independente apoiada pelo CDS à Câmara de Castanheira de Pêra, e percebe-se o abismo para onde caminhamos. Ágata é clara como uma canção pimba: "Para mim a política é zero, não existe." Melhor: "Não sigo a carreira de Assunção Cristas como política nem ouço os seus discursos." Talvez assim se compreenda melhor a sua participação numa lista de um partido político. Ou a razão por que o CDS a convidou. A política chegou ao seu grau zero. Pior é quando dirigentes com mais responsabilidades como Pedro Passos Coelho vêm invocar uma qualquer solenidade patriótica para incendiar a planície. Mostrando-se desejoso de incorporar no seu ADN político a destilaria ideológica do seu candidato a Loures, Passos veio dizer no Pontal uma coisa inimaginável: "O que é que vai acontecer ao país seguro que temos sido se esta nova forma de ver a possibilidade de qualquer um residir em Portugal se mantiver?" Além de ter lido só o que quis na lei, Passos abriu uma caixa de Pandora de onde todos os zombies perigosos podem saltar. Passos empunha o discurso pimba da política: básico, rasteiro e fomentador do deserto. Percebe-se: em momentos de confusão, há líderes que perdem qualquer noção de sensatez. E só se querem salvar.» 

0 comments: