15.8.08

Classes, géneros e cores














Lido no Avante de ontem (o realce é meu).

«Nesta vastíssima nuvem de confusão lançada sobre as consciências, em que se procura diminuir ou sonegar o papel da luta de classes no rumo da emancipação humana, tem havido um gordo lugar para o logro que o «feminismo» mal digerido assume, assim como para o anti-racismo mal entendido, que procura fazer das mulheres os melhores políticos e dos negros os mais justos.

Teorias aceites e divulgadas por muita gente de progresso e pouco discernimento, não bastam as dúzias de exemplos das dirigentes que usam o género ou a cor da pele para se guindarem ao poder e de lá, perversamente, prosseguirem a exploração e a guerra. Gente como Thatcher, ou Golda Meir, ou Carla del Ponte, ou Madeleine Albright, ou Condolezza Rice (que acumula com a negritude), não abalam as convicções do «feminismo» esotérico. Nem Tshombé, Mobutu, Savimbi, servidores sanguinários do império, desabalam as esperanças de que vai aí chegar um negro que, mesmo no capitalismo, faça justiça.

Obama, que se guindou pela cor diferente mas, sobretudo, pela conversa diferente, já fala doutra maneira, à medida que se aproxima da Casa Branca. De tal modo que os americanos começam a mostrar-se fartos. E desapontados.»


Fiquei de tal maneira perplexa que só consigo alinhavar umas tantas considerações mais ou menos desgarradas.

Alguém é capaz de me explicar em que é que o facto de duas «minorias» – mulheres e negros – estarem a ascender cada vez mais a lugares cimeiros nas hierarquias políticas «diminui» ou «sonega» o papel da luta de classes?

Será que Bush foi um péssimo presidente por «acumular» ser branco com ser homem? Lá porque houve ou há mulheres que foram más políticas, não deixa de ser desejável que um número mais elevado chegue a lugares de topo.

Apesar de ser negro como Mobutu, espera-se que Obama seja melhor do que Bush. E, que eu saiba, ele não anda a enganar o mundo dizendo por aí que vai acabar com o capitalismo. Ou esperava-se algum candidato que prometesse levar a América directamente para a ditadura do proletariado?

4 comments:

Anónimo disse...

Cara Joana Lopes, o que o autor desse texto pretende realçar é que não basta ser de uma minoria para se ser progressista. E chama a atenção para isso. Sobretudo para aqueles que acham que essas são aspectos que nada têm que ver com a luta de classes. Parece-me claro!

Joana Lopes disse...

Não, não é claro, caro RC: é, no mínimo, confuso e com recurso a expressões e a comparações muito infelizes.

Obviamente que não basta pertencer-se a uma minoria para se ser «progressista» (termo que é seu e que LEANDRO MARTINS nunca usa). Mas, e agora também para si, o que é que isto tem a ver com a luta de classes? Pode ser falha minha, mas não estou a ver.

Anónimo disse...

Naturalmente que "progressista" é meu. Leituras são leituras, e estamos a discutir com base nelas.

O problema da relação entre género, etnicidade e luta de classes dá pano para mangas, e um dos maiores problemas que podemos ter em comentários de blogues é pecar pelo simplismo. Aviso já que não é essa a minha intenção.

Embora a luta de classes tenha fundamentos de carácter económico, é preciso dizer que as questões das desigualdades e emancipação, sejam elas de género ou étnicas, frequentemente têm uma forte componente económica. Essas diferenças, que tornam os seus protagonistas em "minorias", foram sendo aproveitadas ao longo da história como parte da divisão social do trabalho, etc.. O que quero dizer é que, embora constituam potenciais focos de análise diferenciados, correspondem a realidades que se podem cruzar. E que só teremos vantagens em olhá-las também desse modo.

Joana Lopes disse...

Excelente comentário. Nada tenho a acrescentar e muito obrigada.

É pena que o artigo em questão não tenha sido tão sério e tão rigoroso.