22.10.12

O povo gosta do bloco central?



Segundo uma sondagem realizada pela Pitagórica para o jornal «i», 81,5% dos inquiridos respondem que «desaprovam a forma como o executivo está a governar o país». 

No entanto, desses mesmos inquiridos, 37,8% ainda votariam num dos dois partidos que formam a coligação (gente confiante na ressurreição desta, certamente...), embora a manta viesse a ficar demasiadamente curta.


Não vale a pena somar o que não interessa «se as legislativas se realizassem neste momento» – as percentagens de PS + CDU + BE –, por mais sonhos que por aí andem. Haverá túnel, mas (ainda?) sem luz.

PS + CDS não chega para nada.

Mas o que é assinalável é a constância no amor dos portugueses pelo «bloco central»: PS + PSD sempre com mais de 60%. 

Por muitas das afirmações que faz, é bem provável que, conscientemente ou não, o dr. Mário Soares ainda sonhe com o seu governo de 1983-1985, com Mota Pinto, como modelo para sairmos da actual crise. Mas o que não se sabe é se Cavaco Silva tem ainda, umas décadas passadas, o mesmo asco a que o seu partido de sempre governe de braço dado com os socialistas. Em 1985, assim que ganhou o congresso da Figueira da Foz (19 de Maio), não descansou enquanto não acabou com a coligação reinante e o «divórcio» só foi adiado por uns dias para não inviabilizar a assinatura do Tratado da nossa adesão à CEE, em 12 de Junho. (Logo a seguir, ganhou legislativas, primeiro com maioria relativa e depois absoluta.)

As pessoas não mudam tanto quanto se pensa e é por isso que não é inútil recordar alguns amores e ódios do passado quando os protagonistas ainda andam quase todos por aí. Os partidos também são bastante fiéis aos seus ADN, by the way, e esta é, provavelmente, uma das razões pelas quais ninguém consegue prever como sairemos do imbróglio governamental em que nos encontramos.

«Defendo» eu uma aliança PS + PSD? De modo algum (sinceramente, nem defendo nada, neste preciso momento...). Mas há um passarinho que me diz que lá chegaremos, com ou sem um berloque chamado CDS, se Cavaco não recusar a priori a hipótese, como o fez há vinte e muitos anos. 

(Fonte dos gráficos)

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3 comments:

zorg disse...

É dífícil de explicar o amor dos portugueses pelo bloco central. E é da mesma dimensão e natureza que o seu desamor pelos "políticos".

É lamentável que o povo português, o melhor do mundo, não faça a ligação entre os dois sentimentos.

A-24 disse...

O método de Hondt que favorece os dois partidos mais votados e a distribuição dos mandatos. Sem Hondt e num Circulo único teríamos 8 ou 9 partidos representados na Assembleia, uma democracia bem mais ampla, mas ironicamente os pequenos partidos não querem um Círculo Único pois perderiam protagonismo para os novos partidos. E ficamos assim, sempre os mesmos do costume no poder e as "muletas" de esquerda e de direita que de pouco servem, especialmente PCP e BE, pois o PSD pode sempre pedir coligação ao CDS, já o PS nunca pôde contar com as suas "muletas" (veja-se o último governo de Sócrates que poderia ter uma maioria com o PCP ou BE) e o eleitorado português não é estúpido e sabe que não adianta de nada votar em partidos que se imiscuem de todas as responsabilidades quando são chamados a elas e que para manifs e protestos o povo já sabe como o fazer a título individual (veja-se a manif de 13 de Setembro), não precisando de porta-vozes populistas para falarem por eles.

Explica-se assim facilmente o porquê dos Portugueses continuarem a se inclinar para os partidos do centro.

Joana Lopes disse...

JRD,
A manifestação de 13 de Setembro foi tudo menos antipartidária e não nasceu de geração espontânea, de «protesto individual».
Uma parte do grupo que a promoveu pertence a partidos e está agora a conjugar esforços com a CGTP na organização do 31 de Outubro.