28.6.17

Informação sobre o incêndio: contenção ou transparência



Está aberta a discussão sobre a forma como o governo está a gerir a informação que vai dando ao público, à medida que serviços de um mesmo ministério vão revelando relatórios sobre o incêndio de há uns dez dias. É óbvia a guerra aberta entre alguns desses serviços, mesmo para o mais elementar leigo na matéria, e fica a sensação, talvez injusta mas aparente, de uma tentativa de empurrar de culpas.

Se a decisão de transparência por parte do governo é louvável, é também um jogo arriscado e as consequências não estão para já a ser positivas, no meu entender: existe uma enorme confusão na qual muitos interessados, mas puros amadores em matérias que não são fáceis, se armam em especialistas sabe-se lá em quê, na tentativa frustrada de entenderem o que lhes é fornecido. É isso que se pretende?

No DN de hoje, Paulo Baldaia sublinha bem o que está em causa:

«Olhemos para um pormenor da entrevista de Constança Urbano de Sousa ao DN e à TSF. A ministra defendeu que não se podem estar a lançar "inquéritos sobre inquéritos". O que faz o governo? Lança inquéritos sobre inquéritos. A questão é que a ministra tem toda a razão no que diz e não no que faz, porque - como também diz nessa entrevista - "a resposta tem de ser dada de forma cabal e não pode ser dada de forma parcelar ou de forma intermitente". Pois que é assim que ela nos tem chegado.

Acresce que esta forma de informar tem como consequência uma grande desinformação. As comunicações falharam ou não falharam? Falharam na opinião da Associação Nacional de Proteção Civil, mas estiveram bem no relatório do próprio SIRESP. Idem com a GNR. O governo andou a ser enganado durante o período que durou o combate ao incêndio, com cada organismo a dizer-lhe uma coisa diferente, e agora vende à opinião pública como comprou. Acontece que o governo já sabe que comprou estragado e mesmo assim desiste de, "com seriedade, analisar e cruzar" a informação de modo a evitar "conclusões precipitadas", como também defendeu a ministra na entrevista.

Com esta informação que nos chega às pingas, de forma contraditória e parcelar, o executivo alega que está a agir com toda a transparência. Pode até ser que seja essa a intenção, mas as consequências começam a estar à vista. Longe de ter a comissão independente de peritos a funcionar, a informação com que essa comissão vai trabalhar já está altamente condicionada.

O pior que nos podia acontecer a todos, mesmo aos que estão no governo, era chegar ao fim desta história e não ter percebido nada do que se passou. Até agora, só nos deram guerras de versões contraditórias. Entre os que dizem que pouco ou nada falhou e os que dizem que falhou quase tudo há 64 mortos contabilizados.» 
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