22.4.24

CDS, um PEV com lugar cativo

 


«Quando o CDS saiu do parlamento a comunicação social parece ter decidido ignorar a vontade popular e vários dirigentes e militantes, que estavam no espaço de comentário em representação partidária, mantiveram os seus lugares, apesar de representarem muito menos portugueses do que a IL ou o Chega. Nuno Melo continuou a aparecer na comunicação social, para transmitir a posição do partido em questões nacionais (nas europeias, compreendia-se) e o PSD até teve o topete de tentar que o líder de um partido extraparlamentar representasse a AD em alguns debates. A comunicação social parecia ter um lugar cativo para o CDS.

Em março deste ano, o CDS voltou ao parlamento. Umas vezes tem existência autónoma, outras, quando o Presidente quer que ignoremos o empate de deputados entre PS e PSD, vai a Belém com o PSD, numa originalidade constitucional que garante à AD existência pós-eleitoral. Mas, se o CDS deve a si a eleição de dois deputados, o PS é o maior partido parlamentar. Os 50 mil votos de diferença entre o PS e a AD nem chegariam para eleger um deputado do CDS. Se assumimos que o PSD é o primeiro partido em votos, aqueles deputados foram oferecidos. O CDS não voltou ao parlamento pelo seu pé. Nada mudou, que se saiba, na vontade popular.

Achei que fazia sentido, do ponto de vista da direita, o PSD oferecer ao CDS o regresso à Assembleia da República. Muito provavelmente para o que deverá ser um processo de fusão ou absorção de alguns bons quadros do partido. O PSD está mais à direita do que quando a verdadeira AD nasceu, o espaço à sua direita foi ocupado por liberais radicais e a extrema-direita e resta ao CDS ser a ala conservadora do centro-direita.

Como a formiga que, em cima do elefante, se gaba da poeira que os dois fazem, o CDS tem dito, com uma risível insistência, que garantiu a vitória da AD. Mas já não existe eleitorado do CDS que conte. E toda a gente o sabe. Começando pelos próprios, que têm consciência que não poderão fazer com Montenegro o que Portas fez com Passos e de que este hoje se queixa. O CDS não tem autonomia estratégica. Se se voltar a separar do PSD, morre. O CDS é, hoje, o PEV da direita. Existe porque outro partido quer que ele exista.

É perante isto que a exaustiva cobertura televisiva do congresso de um pequeno partido sem existência autónoma é inexplicável. Dirão: tem peso na governação. Faço minha a pergunta de João Maria Jonet: lembra-se se algum congresso do PEV teve esta cobertura, no tempo da “geringonça”? Será que o CDS tem direito a um lugar cativo na democracia portuguesa, independentemente da vontade dos eleitores? É um hábito da comunicação social?»

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1 comments:

Niet disse...

Mutacoes na área do IV Poder em Portugal:Sai para a politica profissional Sebastiäo Bugalho e consolida-se a eximia classe teórica de Joäo Maria Jonet na coorte de analistas politicos do Expresso e Sic.A projeccäo assimétrica de S.Bugalho faz lembrar o
inicio da carreira de Joäo Carlo Espada que, de militante e redactor da " Voz do Povo ",passou a conselheiro de Soares em Belém e participou com VJ.Silva,JM Fernandes e escol do mainstream redaccional trotskista e maoista no lancamento do Publico - a adoptar o modelo de Serge July no relancamento do matutino Libération fundado por Jean-Paul Sartre em 1973. Niet