8.5.24

Descobrir um novo país

 



«Portugal está a descobrir um novo país. Durante anos, habituamo-nos a ouvir que Portugal era um cantinho tranquilo da Europa, imune a movimentos radicais e a extremismos. Crescemos com uma herança, alimentada pelos tempos da ditadura, que nos dizia que éramos um povo pacífico, com alma aventureira, mas incapaz do pior que a Humanidade consegue por vezes ser capaz de fazer. Mesmo que lá no fundo dos livros de História, algumas linhas nos fossem esclarecendo que as incursões pelo Mundo não eram assim tão pacíficas como nos faziam acreditar.

Coincidência, ou talvez não, com o aproximar dos 50 anos do 25 de Abril começamos a conhecer-nos um pouco melhor. E descobrimos que somos capazes de extremos, de reações xenófobas e até percebemos que muitos de nós portugueses, afinal, não são assim tão defensores da democracia. Parece que há outros modelos melhores, admitem alguns dos nossos concidadãos…

E, de repente, damos de cara com milícias justiceiras que tentam fazer justiça pelas próprias mãos, mesmo que contra os destinatários errados. Encontramos quem, entre nós, defenda que o melhor modelo de governo é a ditadura. Descobrimos que são cada vez mais os portugueses que não têm vergonha de admitir publicamente que são racistas.

O que há alguns anos nos surgia como uma ínfima parte da nossa sociedade, que podíamos ignorar e quase esquecer que existia, de repente transformou-se em algo bem mais sério. Afinal, não somos um povo assim tão pacífico e avesso a extremismos. E esta descoberta de nós próprios é demasiado assustadora para lhe conseguirmos fazer frente.»

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