31.12.09

2010? Recebam-no assim




P.S. - Por acaso, foi mais ou menos assim que entrei em 1/1/2010: uma noite absolutamente hilariante!

Da boa disposição
















Fila de espera no Califa, para comprar o dito cujo. Tentativa de diálogo:

- Estão pouco tostadinhos.
- …
- O Bolo Rainha é melhor, mas prefiro o Rei.
- …
- Embrulham com papéis tão grandes! Por isso é que está mais caro.
- …
- Já viu que não têm frutas verdes?
- …
- E pinhões? Nem vê-los, só amêndoas porque são mais pesadas!
- Então um bom ano para si.
- Bom ano? Vai ser muito pior!

(Bom ano também para si,
dr. Cavaco!)

Blogosfera 2009


30.12.09

Referendo? Sem qualquer espécie de dúvida!

















Um grupo de cidadãos portugueses inicia neste dia as diligências necessárias ao lançamento de uma iniciativa popular que proporá a realização de um referendo que incidirá sobre a seguinte pergunta:

«Concorda que o casamento possa ser celebrado entre pessoas de sexo diferente?»

Assine a petição.
Ou junte-se à Causa no Facebook.

(Iniciativa das Moscas)

A linha da vida




















O segredo está em fintar o destino e esticar a linha da vida, se possível até ao ombro.

«Devidamente adaptado, o processo tem vindo a ser seguido entre nós com o objectivo de alterar o curso da crise e o lamentável destino financeiro que se avoluma no horizonte do Orçamento de Estado. Anunciando repetidamente o fim da crise (…), espera-se que a crise se convença e a realidade não tenha outro remédio senão conformar-se à propaganda.»

Manuel António Pina, no JN de hoje.

À espera de 2010


Com um grão de nostalgia




















Não sou grande admiradora das prosas de Baptista Bastos, mas a crónica que hoje publica no DN, em jeito de balanço, tocou-me fundo.

«Fecho o ano, remato a frase e concluo: esta gente não gosta da gente. No entanto, construímos as casas deles, montamos-lhes as electricidades, as águas correntes, limpamos as suas sujidades, areamos os seus metais, brunimos as suas roupas, ensinamos os seus filhos, escrevemos os jornais e os livros que deviam ler. Esta gente dirige os nossos destinos, orienta os nossos dias, determina os nossos ordenados, impõe o nosso comportamento, comanda o nosso presente, molda o nosso futuro. (…)

Nenhum de nós é inocente. Pertencemos ao bragal de uma civilização que cumpriu a vocação do conquistador: matou, estropiou, escravizou, mas fez do mato a cama onde dormiu com as mulheres que alimentavam as fantasias dos nossos sonhos. Uma combinação perfeita de poesia e maldade. (…)

Tudo parece perdido porque tudo parece inamovível. Contudo, ante esta empresa de demolição moral e de domínio absoluto, é preciso resistir. É preciso compreender que nós somos imprescindíveis. Examinamo-los: são sombrios e tristes, desamparados de gramática e arrogantes na sua obstinada maneira de manter um socialismo ou uma social-democracia degenerados e de má-fé. Sumiu-se, nesta aflitiva e aflita mediocridade, a qualidade áurea de um projecto que nos inspirou.»

29.12.09

Ilusões


Para que se veja o que deve ser visto















No seguimento do que já publicitei aqui sobre a inacreditável recolocação da placa na sede da ex-PIDE/DGS, mais alguns dados. Veja-se, nesta outra fotografia, de que é que estamos realmente a falar.

Acabei de enviar aos membros de uma Causa que criei no Facebook, no passado fim-de-semana, o «Boletim» que abaixo transcrevo. Tudo o que lá vem dirige-se também aos leitores deste blogue.



Exigir que a placa na sede da PIDE regresse ao seu lugar!

Informação adicional:

1 – A empresa imobiliária GEF comunicou hoje à direcção de «Não apaguem a memória» que iria averiguar o que se tinha passado com a colocação da placa e prometeu uma resposta no próximo dia 4 de Janeiro. Ver comunicado do NAM aqui.

2 – Tenho recebido muitas sugestões quanto a formas de protesto e de pressão, parecendo-me, a título pessoal, que a mais adequada neste momento (dado o período de férias e, já agora, o novo prazo pedido pela GEF) é a insistência no envio de mails para a referida empresa (gef@gef.pt). Vou começar a publicar hoje, no blogue «Caminhos da Memória», uma selecção de alguns de que tenho conhecimento. Se pretenderem participar nesta divulgação, enviem cópia do que escreverem para:
caminhosdamemoria@gmail.com.

3 – Estou bem consciente de que esta forma de protesto não esgota um processo que está longe de se limitar à recolocação da placa! Mas é um passo.

Aos 371 membros que esta Causa tem no momento em que escrevo, os meus agradecimentos pelo interesse e o desejo de um excelente 2010.

Joana Lopes

Fora de época











«O povo vai venerar um santo só porque ele derrotou os espanhóis. Ficamos à espera que seja canonizado o régulo Gungunhana que se sacrificou pela independência da sua pátria, Moçambique…»

Se o são Nuno derrotasse agora dom Rouco Varela e sus muchachos, até eu ia em peregrinação ao seu túmulo se este não tivesse sido destruído pelo terramoto de 1755! Quanto a Gungunhana, porque não?

Lá longe, muito a Oriente














A notícia é de ontem: cerca de 4.000 pessoas da etnia hmong estão a ser repatriadas, contra sua vontade, da Tailândia para o Laos.

Importa recuar um pouco para enquadrar a notícia. Durante a guerra do Vietname, mais concretamente em 1962, os Estados Unidos recrutaram hmongs para combaterem a presença de soldados vietnamitas no Laos, numa operação financiada pela CIA, que ficou conhecida como «Guerra Secreta». Com a retirada americana em 1975, foi suspensa toda a ajuda aos hmongs que passaram a ser considerados como traidores no seu país quando o partido comunista tomou o poder.

O governo do Laos nunca deixou de perseguir os membros desta etnia, que ao longo das décadas foram fugindo para onde puderam - sobretudo para a vizinha Tailândia. Têm aí o estatuto de «emigrantes economicamente ilegais», e não de refugiados, e vivem numa espécie de campos-prisão, em situações humanitárias preocupantes.

Ontem, o exército tailandês começou o repatriamento para o Laos, em cem autocarros, numa operação unanimemente condenada pela opinião internacional que considera que muitos teriam direito, sem qualquer espécie de dúvida, ao estatuto de refugiados. Todos os apelos para que a acção fosse suspensa (da ONU, do ACNUR de Guterres) foram inúteis e experiências anteriores de repatriamento levam a crer que este não se fará sem sequelas.

É terrível a história do sudoeste asiático, massacrado com guerras, ou entre vizinhos ou contra colonizadores e «protectores» ocidentais. Trinta e quatro anos depois de se verem abandonados por quem os utilizou, estes milhares de pessoas e as suas famílias são agora re-exportados para onde não querem – quase como coisas indesejadas ou animais que não são de estimação. Ontem, vítimas de guerras de outrem, hoje vítimas de uma ditadura mais ou menos corrupta.

28.12.09

A vida é bela!



















… e não, não se trata do filme de Roberto Benigni, mas sim de uma empresa de sucesso, que terá facturado 10 milhões de euros este ano.

Por razões que não vêm ao caso, na véspera de Natal, esperei enregelada que o escritório da dita empresa abrisse para satisfazer um pedido de alguém que não podia ir comprar uma última prenda de Natal (só depois descobri que podia ter ido à FNAC…). Poucos minutos mais tarde, os empregados não tinham mãos a medir.

O que se compra? Vouchers – para tudo o que se possa imaginar, desde «Fugas Gourmet» a 139,90 euros, «Rafting no Sado» a 49,90 ou «Spa a Dois» por 119,90. Também «Wine Taisting», «Passeio de Charrete», até «Noites em Pousadas de Juventude» (!...) e centenas de outras ofertas.

Actividades perfeitamente honestas e aliciantes, portanto - nada a opor. Mas o que me impressiona é o «empacotamento». Oferece-se um LFT104 a alguém que decide depois se quer dar um passeio de burro na Madeira, ter uma aula de surf ou ver um pôr-do-sol no Aqueduto das Águas Livres. No fundo, uma maneira simpática de dar 24,90 euros. Esquisito… Sinto que há algo que está a escapar-me.



Então não é?

Tiros na adopção - e nos pés também
















Raramente transcrevo um post na íntegra. Mas este, que não foi escrito por uma perigosa esquerdista que pretenda boicotar a viabilidade do casamento entre pessoas do mesmo sexo, «mascarando»-a com a defesa da adopção, enche-me as medidas.

Ana Gomes, deputada europeia do PS, no «Causa Nossa» (só o realce é meu):

«Eu apoio a decisão do Conselho de Ministros de submeter à Assembleia da República um projecto de Lei visando legalizar o acesso ao casamento civil por pessoas do mesmo sexo, cumprindo assim uma proposta que o PS submeteu ao eleitorado no programa que apresentou nas últimas eleições legislativas.

Trata-se de pôr fim a uma discriminação com base na orientação sexual. Uma discriminação inconstitucional, que assenta na negação de direitos humanos (direitos civis) a cidadãos que se assumem como homossexuais.

O que eu já não compreendo, nem apoio, é que o PS e o Governo entendam, do mesmo passo, introduzir uma outra inaceitável discriminação contra os homossexuais: e é isso o que acontecerá, se for aprovada a inclusão no Código Civil da interdição de adoptar, para homossexuais que se casem.

Antes de mais, discordo por razões metodológicas (oiço invocar “razões tácticas” com estarrecedora hipocrisia). Ora, quem está disposto a pagar o preço político por fazer o mais difícil - afrontar os preconceitos culturais que vedam o contrato de casamento civil a pessoas do mesmo sexo – não deve deixar-se encalacrar pelo menos, pelo que já é social e legalmente aceitável. Tanto, que ainda recentemente um tribunal português confiou crianças a um tio assumidamente homossexual e a partilhar casa com outro homossexual.

E depois, metodologicamente ainda, porque ao introduzir essa nova e inaceitável discriminação, o PS estará a dar munições a quem quer inviabilizar a legalização do casamento civil para homossexuais, a pretexto de que o projecto de Lei estará ferido de inconstitucionalidade.

Porque a realidade é que, substantivamente, essa nova discriminação é mesmo inconstitucional.

E assim, ficará em causa a coerência política desta iniciativa do PS. Até porque, além de inconstitucional, esta discriminação é duplamente injusta, se tomarmos em conta que a lei hoje não proíbe cidadãos homossexuais, solteiros ou casados, de adoptarem crianças. É injusta para os homossexuais que, se quiserem adoptar, terão de se manter solteiros ou entrar em casamentos heterossexuais de fachada. E é também muito injusta para os milhares de crianças institucionalizadas no nosso país, que desesperam por famílias de acolhimento.»

Mas será que tudo isto não entra mesmo pelos olhos dentro?

27.12.09

Papa casamenteiro? Mas é preciso ter lata!














Bento XVI dirigiu hoje uma mensagem a um daqueles encontros de famílias, dirigido pelo sinistro cardeal Rouco Varela.

Apelou à defesa da família baseada no casamento entre um homem e uma mulher e, a páginas tantas, «lembrou que Deus veio ao mundo "no seio de uma família, sendo esta instituição o caminho mais seguro para encontrar e conhecer" Deus».

Estranha família no mínimo, não?

P. S. – Comentário de Fernanda Câncio em diálogo no Twitter: «É àquilo que o papa chama 'família tradicional'? Com procriação assistida e pai incógnito?»

O jornalismo que (não) temos














Morreu Edward Schillebeeckx, um dos teólogos mais importantes do Concílio Vaticano II de feliz memória.

É bem provável que este nome nada signifique para 99,9% dos portugueses, mas António Marujo assina hoje um artigo no Público, onde a sua obra e respectiva importância são bem realçadas.

Com uma falha cujo motivo me escapa. Especialista em assuntos religiosos desde há muito, nem me passa pela cabeça que AM não saiba que a revista Concilium, da qual Schillebeeckx foi um dos fundadores e principais responsáveis (como vem referido na notícia do Público) existiu em Portugal, traduzida e editada pela Moraes, desde a sua origem em 1965, e que teve um papel decisivo na adesão dos católicos ao espírito conciliar e em tudo o que se seguiu. Mais: precisamente em ligação com a Concilium, Schillebeeckx esteve várias vezes em Lisboa e, em Abril de 1966, fez uma conferência sobre «A dolorosa experiência do Deus oculto», a que assistiram centenas de pessoas - bem vigiadas e controladas pela PIDE, com muitos agentes na sala. Isto está escrito em livros e a documentação sobre os colóquios da Concilium está disponível na biblioteca da Universidade Católica.

Se tivesse morrido um dos futebolistas coreanos que, no mesmo ano de 1966, meteu um dos dois golos contra Portugal, haveria certamente um jornalista desportivo que recordaria o facto. É assim…

(Foto: Lisboa, 1966 - Schillebeeckx, Karl Rahner e outros, com Helena Vaz da Silva, principal responsável pela revista Concilium.)

Dedicado aos que acham que tudo se resolve com uns emplastros e que o capitalismo está a ficar melhorzinho



















Soma e segue

26.12.09

A ideia era provar que os portugueses não fazem nada de jeito? Conseguiram


«A TAP e a ANA prepararam uma festa de Natal muito original!!!« (23/12, no Aeroporto de Lisboa)




Ou queriam imitar Antuérpia?!!!!...

A placa já está na sede da PIDE – mas mal se vê!
















(28/12 -Este post está hoje em destaque na Homepage do SAPO, tab "Radar".)

Acabo de publicar este post nos «Caminhos da Memória» Indignação precisa-se.

No seguimento do comunicado do NAM, aqui noticiado, passei hoje propositadamente pela Rua António Maria Cardoso, com o objectivo de verificar se a GEF-Gestão de Fundos Imobiliários, SA tinha cumprido o prazo para recolocação da placa. Já me vinha embora sem nada ver quando, quase por mero acaso, a descobri.

Bem à vista no passado, está agora, como a fotografia mostra (canto inferior direito), perto no chão e encoberta pelos carros estacionados.

Independentemente do que o NAM vier a decidir fazer, acabo de enviar o meu protesto, a título pessoal, para a imobiliária gef@gef.pt. Juntar-me-ei a todos os que quiserem levar esta batalha até ao fim: no mínimo, a placa tem de ser recolocada com a mesma visibilidade que tinha anteriormente. Para além de tudo o mais, não gosto de ser tomada por parva.


P.S. – Aconselho a leitura ou releitura disto.

Foi criada uma Causa no Facebook: «Exigir que a placa na sede da PIDE regresse ao seu lugar!». Quem estiver registado, pode aderir aqui.

Para pais ainda angustiados




















Se vos escapou esta crónica do Comendador Marques de Correia:
A momentosa questão do Pai Natal vs. a tormentosa questão do Menino Jesus

«A grande questão deste tempo é, como sabeis, quem dá os presentes às crianças, se o Pai Natal, se o Menino Jesus. As duas escolas digladiam-se, e as suas armas estão bem visíveis nas frontarias dos edifícios: numas, uns homúnculos de vermelho com um saco de gatuno às costas trepam prédio acima; noutras, um pano aberto com um menino seminu deitado numas palhinhas com um halo que parecem espigas de milho a rodear-lhe a cabeça.(…)

Quem tem razão? Na verdade, não me parece que possa ser a facção do Pai Natal. Que raio tem o São Nicolau a ver com o nascimento do filho de Deus? Porque havia de viver no Pólo Norte e não ter aparecido na Conferência de Copenhaga, onde tanto se discutiu o degelo? E os duendes? São críveis? As renas? Por amor de Deus! Mas um menino recém-nascido, nas palhas deitado, por muito poder que tenha, pode ler cartas? E quem transporta os presentes se não há renas nem trenó?

Foi assim que cheguei à conclusão lógica: não é o Pai Natal nem é o Menino Jesus! Estou neste momento inclinado a pensar que se trata de mais uma obra social do Governo do eng. Sócrates. Conhecendo o nosso primeiro-ministro, sabe-se que, embora não tenha renas, não lhe era impossível arranjar um grupo de outros animais que fizesse aquele trabalho. Isto a nível nacional, porque a nível planetário não há dúvida que é o Presidente Obama que distribui as PlayStations e os piões... Por isso, se para o ano virem uns homúnculos vestidos de fato liso com gravata de uma só cor, com sacos de gatuno, a subir os prédios (não sendo os fiscais do IRS), é porque as pessoas passaram a homenagear quem deve ser homenageado. O Presidente Obama, seminu, numas palhas, não terá tanta graça, mas também se arranja.»

25.12.09

«E por vezes»
















E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos. E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos.

David Mourão-Ferreira, 1973
(pelo próprio)




Se não compraram o pinheiro a tempo...





















... têm sempre esta hipótese.

23.12.09

Colonos para sempre?




















Lê-se com atenção o que está escrito neste cartaz, que anuncia a inauguração da primeira loja dos chocolates Häagen-Dazs na Índia, e custa a acreditar: «Antestreia reservada a viajantes internacionais», «Acesso reservado a portadores de passaportes internacionais».

Mal-entendido? Houve quem quisesse confirmar e fosse impedido de entrar – um indiano, obviamente. Já agora, é pena que ninguém ouse escrever hoje, como no tempo dos ingleses: «Proibido a indianos e a cães».

Vieram depois as interpretações e as desculpas, a empresa contratada para a campanha de marketing foi despedida, mas a descarada descriminação lá está, bem à vista, nua e crua. Feita por uma marca de chocolates bem perto de si.

(Fonte)

Continuando na mesma onda


E porque não quero que vos falte nada


22.12.09

Perguntar não ofende



















- «A» e «B» são lésbicas e têm uma relação sólida.

- «A» adoptou uma criança que é criada como filha de ambas.

- »A» e «B» pensam casar-se assim que a lei o permitir.

- Se mais tarde «A» quiser adoptar mais uma criança, isso é possível? Logicamente, julgo que não: não poderá fazê-lo nem como solteira (que já não é), nem como casada (porque a lei, nos termos em que vai ver aprovada, não o permite). Faz sentido?

Estarei enganada?

O futuro é das avós




















Os pais que se ocupem dos filhos!

Há sempre pastéis de nata em Xangai



















E não só agora, com bolo-rei, vinho do Porto e filigrana. Como há chocolates Godiva, perfumes Chanel, relógios Gucci (verdadeiros) e uma arquitectura fabulosa numa espécie de nova Manhattan. A terra é redonda, tornou-se pequena e tudo chega rapidamente ao outro lado, onde está agora o centro do mundo.

O que dói é ver a Europa a marcar passo – na melhor das hipóteses.

Já tudo foi dito sobre o que se passou em Copenhaga, com culpas e desculpas, mas uma coisa parece certa: «a Europa julgou que podia convencer o resto do mundo a pensar como ela» - o que já não acontece -, com voluntarismo político e «uma certa dose de oportunismo: para os dirigentes europeus, confrontados com arsenais de impopularidade (...), a luta contra as mudanças climáticas parecia redentora». Não foi.

Dito de outra maneira: «O discurso da União Europeia parece-se com o de um velho hippie que alerta os filhos contra os perigos da droga.» Assino por baixo.

(Fonte)

21.12.09

Parece que estou a ver…


…o 45 rotações, igualzinho, até com a mesma cor - e com Georgi Fame, evidentemente. Redescobri-o hoje.




The ballade of Bonnie and Clyde
Bonnie and Clyde were pretty lookin' people
But I can tell you people They were the devil's children,
Bonnie and Clyde began their evil doin'
One lazy afternoon down Savannah way,
They robbed a store, and high-tailed outa that town
Got clean away in a stolen car,
And waited till the heat died down,
Bonnie and Clyde advanced their reputation
And made the graduation
Into the banking business.
"Reach for the sky" sweet-talking Clyde would holler
As Bonnie loaded dollars in the dewlap bag,
Now one brave man-he tried to take 'em alone
They left him Iyin' in a pool of blood,
And laughed about it all the way home.
Bonnie and Clyde got to be public enemy number one
Running and hiding from ev'ry American lawman's gun.
They used to laugh about dyin',
But deep inside 'em they knew
That pretty soon they'd be lyin'
Beneath the ground together
Pushing up daisies to welcome the sun
And the morning dew.
Acting upon reliable information
A fed'ral deputation laid a deadly ambush.
When Bonnie and Clyde came walking in the sunshine
A half a dozen carbines opened up on them.
Bonnie and Clyde, they lived a lot together
And finally together they died.

É a política...



















É a montante de todas as justificações e subtilezas jurídicas, que encheram jornais e blogues, que a questão deve também ser interpretada e concordo por isso com o seguinte:

«A relação do Partido Socialista com a igualdade é uma história feita de ambiguidades, de ziguezagues e de falta de coragem. Há pouco mais de um ano, quando chumbou no Parlamento a proposta do Bloco para alargar o direito ao casamento a todos os cidadãos, alguns porta-vozes do PS anunciavam que eram a favor do que tinham acabado de chumbar porque era preciso "um grande debate nacional" antes de consagrar a igualdade.»

O secretário de Estado da Presidência do Conselho veio entretanto explicar que «o PS não tem “mandato democrático” para avançar com essa medida, porque o debate existente durante a campanha eleitoral versou apenas o casamento entre pessoas do mesmo sexo».

Dou de barato que, na legislatura anterior, Sócrates tenha receado que muitos dos seus deputados votassem contra o que agora foi decidido. Mas se o PS se tivesse manifestado claramente a favor da possibilidade de adopção por casais formados por pessoas do mesmo sexo durante a campanha eleitoral (prevendo todas as cláusulas a introduzir ou a retirar dos códigos), os novos candidatos a deputados saberiam com o que contar neste domínio. E não teriam o direito a reclamar se lhes fosse imposta disciplina de voto, como não reclamarão (julgo eu...) quando forem agora forçados a votar contra os projectos dos Verdes e do Bloco (*), que prevêem a adopção.

Mais vale um pássaro na mão? Certamente. Mas com alguma cautela porque ficam muitos pássaros por aí a voar.

(*) Leio hoje, 22/12, que, segundo Francisco Assis, nada está ainda decidido quanto à obrigatoriedade de os deputados do PS votarem contra os projectos dos Verdes e do Bloco.

Já com algum atraso, parabéns camarada!















Estaline teria completado 130 anos no passado dia 18 e «Memorial», uma associação de defensores dos direitos humanos na Rússia, lançou uma campanha para que os seus crimes sejam juridicamente apreciados e valorizados. Já não é sem tempo!!!

Recorde-se que «Memorial» ganhou este ano o prémio Sakhrov. Um dos seus líderes, Arseni Roguinski, sublinha agora a urgência de «desestalinizar» o país como medida indispensável para que seja possível construir «um futuro normal».

Entretanto, o Partido Comunista da Rússia tinha pedido que, a propósito da efeméride, não manchassem a memória do ditador: «Quisiéramos que ese día cesen las discusiones acerca de ciertos errores de la época estalinista, para que la gente reflexione sobre la figura de Stalin como creador, pensador y patriota.»

Certos erros? Mas onde é que eu já ouvi isto???

20.12.09

Glórias passadas











Gago Coutinho e Sacadura Cabral iniciaram a primeira travessia aérea do Atlântico Sul em 30 de Março de 1922 e chegaram a Fernando Noronha, depois de várias etapas e muitas aventuras. No dia 11 de Maio , data deste exemplar de O Século, descolaram daquela ilha - e muitas outras peripécias se seguiram.

O Editorial do jornal e uma série de textos que preenchem a primeira página são absolutamente extraordinários, tanto quanto a forma como quanto a conteúdo - grandiloquência em todo o seu esplendor! Uma pequena amostra:

«Estua mais forte o sangue nos corações lusíadas. Uma aura emocional desprende-se das almas e flutua e adeja e liberta-se para o Alto, em ânsia e em êxtase.
Hora santificada esta. Hora terníssima e religiosa, em que o espírito da Raça ampara e impele as suas polarizações mais belas para um infinito de glória. (…)
De novo a mais bela aventura da nossa Raça, para uma das maiores de todas as idades, a águia lusitana se libra, fitando o Sol, desafiando os elementos, orgulhosamente, dominadoramente. (…)
E uma saudade há-de cair dolente sobre a pedra tumular dessa «Lusitânia» de Sonho. Rico sarcófago para uma ânsia de infinito – o Oceano! Digna lágea sepulcral essa dos Rochedos – que desafiam os séculos – para um Sonho grande – que assombrou o mundo!»

Tudo isto porque encontrei hoje cá em casa este jornal - eu que, ao contrário do dr. Paulo Portas, nem sou sobrinha de nenhum dos dois navegadores. Era Primavera em Lisboa e o jornal publicou nesse dia esta fotografia com a seguinte legenda:
«Gentis passeantes, que o Sol de ontem atraiu a passeio, recolhendo apressadas, por se aproximar a noite».

A gentil passante do meio era a minha mãe.

O centro do mundo
















19h0o – No estádio, à espera do Porto, ou em intermináveis filas para o Colombo.

Diálogo previsível
















Na caixa de um supermercado, algures nas redondezas:

- Então, felicidades!
- Obrigada, Bom Natal também para si.
- Não: para hoje.
- ?
- Contra o Porto!!!

Espantar e divertir a populaça


«O senhor de Paredes que resolveu gastar um milhão de euros numa placa inútil e horrível com a bandeira da República é um caso único ou é, para nossa desgraça, um caso típico? A disputa sobre o Red Bull infelizmente indica, que é um caso típico. As Câmaras estão hoje misteriosamente persuadidas de que lhes compete espantar e divertir a populaça: com "acrobacia aérea" ou o Rock in Rio, com festas, com feiras, com o que for. Pior ainda: pensam que só por si a publicidade (qualquer publicidade) do seu canto do mundo o beneficia. A ignorância e a grosseria tomaram pouco a pouco conta do país. Não temos, de facto, emenda.»

Vasco Pulido Valente, no Público de hoje.

Derivas libertárias
















Registe-se que a hierarquia da igreja portuguesa já veio dizer que não entrará em guerra aberta com o governo nem com a Assembleia da República por causa do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Aliás, dado o passado recente e a brandura dos nossos costumes, imagina-se mal o cardeal de Lisboa, ou mesmo o arcebispo de Braga, a convocarem multidões gigantescas como Rouco e os seus irmãos, em Madrid.

Mas isto não significa que a dita hierarquia esteja parada e a recente atribuição do Prémio Pessoa ao bispo do Porto não podia ter vindo em melhor data – disse-o e repito. Fomos hoje brindados, no Expresso, com uma longa entrevista em papel e um bónus extra online.

Que Manuel Clemente se declare contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo por «fidelidade» aos seus superiores seria de esperar, o modo como o faz revela bem que é do seu próprio posicionamento pessoal que se trata. Diz aliás (na entrevista em papel) que, embora sendo cristão, aborda a problemática do casamento «numa perspectiva humana», que implica «a complementaridade masculino e feminino, bem como a possibilidade e a previsão da geração e da educação da prole». E com a consequente incapacidade de transmissão de alguns valores num hipotético casal homossexual, porque «a psicologia diz que a primeira consciência que temos da nossa limitação é verificarmos que o pai e a mãe não são iguais». Limitação??? Como se não houvesses, logo à nascença e ao longo de toda a vida, «limitações» e diferenças bem mais graves entre ricos e pobres, saudáveis e estropiados e por aí fora. Adiante.

Mas é no complemento da entrevista no Expresso online que se encontram as afirmações mais estranhas, que já referi ontem. Para o novo Prémio Pessoa, legalizar o casamento de homossexuais é «tornar formal este campo contra natural». Pergunta também até onde se pode impor o reconhecimento público de uma «preferência ocasional», de um «desejo esporádico ou episódico».

É isso a homossexualidade para Manuel Clemente: algo contra-natura, um acidente de percurso – só falta dizer «que se pode tratar»! Registe-se.

Quanto ao resto da entrevista, nem vale a pena comentar a mentalidade revelada numa série de banalidades em que, por exemplo, se condena a «deriva libertária» em que as sociedades ocidentais vivem desde o fim da II Guerra Mundial...

Ler para crer – e para «agradecer», uma vez mais, ao júri do Prémio Pessoa.


P.S. – Este texto saiu muito mais brando do que eu esperava. É que ontem, pelas três da manhã, estava indignada. Agora, já nem isso.

19.12.09

E já que se fala tanto de redes sociais


Antes de beijar a noiva, actualizou o Facebook e o Twitter:

«Standing at the altar with @TracyPage where just a second ago, she became my wife! Gotta go, time to kiss my bride.»

Qual é a parte da história que ainda não percebemos?














Estamos num match entre o resto do mundo e a China - que é quem mais ordena, em casa dos vizinhos (e não só... ) E temo muito pelo resultado, talvez com uma sensibilidade especial porque tenho andado pelas redondezas.

P.S. - Ainda se lembram dos uígures?

Porque no te callas?


















Lerei com atenção a entrevista que o Expresso publicará hoje, mas a amostra não augura nada de bom :

«D. Manuel Clemente faz apelo a uma grande reflexão a propósito do casamento homossexual por achar que "não nos devemos precipitar quando se toca neste plano e neste nível do institucional, do geral, da sociabilidade instituída. Uma coisa é o meu comportamento particular, outra coisa é o extravasamento dessa minha preferência particular para o campo público, e a insistência em tornar formal este campo contra cultural".

A propósito da ideia muito defendida em diversos sectores de que os direitos individuais não se referendam, o bispo do Porto pergunta "até onde é que se pode impor, até em termos de formalização social de reconhecimento público, o meu desejo, o meu afecto, ou a minha preferência ocasional?"»

(O realce é meu.)

18.12.09

País «um milhão«?










José Rodrigues dos Santos já tem um milhão de leitores, há um milhão de portugueses activos no Facebook, um milhão que joga online, também um milhão que faz férias no estrangeiro e anda por aí o milhão que votou em Manuel Alegre.

Dúvida metafísica: serão sempre os mesmos?

Lost generation?


Sobram os canivetes e os chocolates













Depois do referendo sobre os minaretes, esta notícia (entre outras no mesmo sentido).


Da primeira página de «Tintin en Suisse»:
Il était toujours gentil
Il ne buvait, ni ne fumait (ça ne se fait pas).
Il n'avait jamais oublié de se raser (mais avait-il de la barbe ?)
Il n'avait pas d'argent.
Il n'avait jamais connu de femme (Tabou).
Il n'avait pas de papa, il n'avait pas de maman (ça on sait pas pourquoi).

17.12.09

Para que não digam que sou contra as religiões























(Clique na imagem para ler)

Os portugueses são masoquistas


... ou já não teriam mesmo pachorra nem para este senhor, nem para este outro. Antes o Jingle Bells!

«Até aqui corria-se para a rua ao sentir um sismo, agora corre-se para a internet!»












Assim foi. As redes sociais, sobretudo o Twitter, só pararam duas ou três horas mais tarde. No Facebook, foi criada uma «causa» - «Eu Sobrevivi ao Sismo de 2009 !» - que pelas 10:30 am já tinha mais de dois mil fãs.

Algumas pérolas, entre muitas:

• O que dirá Medina Carreira sobre este sismo??

• Olá o meu nome é jesualdo ferreira se eu podia viver sem um abanão? podia mas nao era a mesma coisa!

• Só me lembro de estar muito bem na cama e de repente já ter passado a hora do sismo e eu ter-me esquecido de me assustar!

• A minha mulher diz para mim está tudo a tremer és tu? Eu a dormir respondo que sim sou eu, descansa!

• Passou agora o carro do lixo e com o barulho corri logo para a porta com a mochila já preparada. Alarme falso de réplica.

• É uma distracção para a crise que por sua vez é uma distracção para o governo.

• É por estar tanta gente acordada àquelas horas que esta merda deste país não anda para a frente.


E sobretudo:

Extinga-se a Protecção Civil. O Twitter dá conta do recado.

Porque, se não der, estamos bem arranjados…


P.S. - Leio no Público de hoje que há 1.000.000 de portugueses activos no Facebook, dos quais mais de metade o utiliza todos os dias. O número de «activos» duplicou nos últimos três meses e era dez vezes menor em Janeiro deste ano. Absolutamente impressionante! Os «feicebuque-excluídos» que se cuidem…

16.12.09

Não, não é uma redacção do 1º ciclo, nem um «post» de Pedro Santana Lopes


















Pingo Doce versão Cambodja?


















Num dos países mais pobres do sudoeste asiático, trabalha-se um número indeterminado de horas, 364 dias por ano (não bissexto). Todo o emprego é bem-vindo, sobretudo em fábricas deslocalizadas dos nossos países orgulhosos e anafados e, goste-se ou não, a tendência vai continuar.

Mas nem tudo pode passar para esse outro lado do mundo, porque não dá muito jeito ir fazer compras de Natal a Siem Pang, nem mesmo a Phnom Penh, e é bom ter sempre um qualquer Continente ao alcance de um automóvel. Assim sendo, importem-se os hábitos e os «valores éticos» - parece ser essa a tendência.

Não sou nada fundamentalista em termos de (não) flexibilidade de horários de trabalho, sou pela abertura de quem quiser e puder ao Domingo e por aí adiante. Mas ler e ouvir que se pretende estender o horário de quem quer que seja até 60 horas semanais, obrigatoriamente e com pré-aviso de véspera, ainda por cima com compensação apenas concretizável em tempo de descanso e não em dinheiro, ultrapassa tudo o que estava preparada para ouvir neste domínio - mesmo vindo do eng, Belmiro de Azevedo.

Não terá sido certamente para isso que nasceu a Europa e, muito menos, que foi feito o 25 de Abril.

Paredes, o pau e a bandeira

O post já teve duas actualizações e não acredito que sejam as últimas.
Repito uma vez mais: este país não existe!

15.12.09

Vade retro














Juro que não tirei o mês para embirrar com bispos e papas, mas as notícias chegam ao meu correio como cerejas, sem as procurar.

Bento 16 acaba de aprovar uma modificação ao código de direito canónico, segundo a qual passa a ser inválido o casamento entre duas pessoas quando uma é baptizada e a outra não.

Até aqui, esse tipo de casamento («com disparidade de culto») era possível desde que com autorização dada pela autoridade eclesiástica e implicava até o compromisso de educar os filhos na fé católica. E não sei como é que se passavam as coisas nas últimas décadas, mas lembro-me de assistir à cerimónia de um caso destes numa sacristia e não na igreja propriamente dita. A partir de agora, nem assim.

Isto tem uma importância mais do que relativa, já que só obriga um eventual nubente pagão a passar pela pia baptismal antes de subir ao altar. Mas faz-me imensa confusão que o Vaticano vá fechando porta atrás de porta, numa intolerância que, do exterior, parece quase patética e até um pouco suicida. Desígnios do altíssimo, certamente, mas que me escapam totalmente.

P.S. - Este post está hoje em destaque no Sapo.

P.S. 2 - Aconselho a leitura dos comentários a este post.

O pombo


Muito bom!

Até os egrégios avós ressuscitarão


Leio no DN que, para comemorar o centenário da República, a Câmara de Paredes vai construir um mastro que «terá cem metros de altura, sendo 40 metros mais pequeno que a Torre Vasco da Gama, em Lisboa, mas maior do que a Torre dos Clérigos, no Porto, e quase igual ao Cristo-Rei, em Almada. Estará equipado com um sistema mecânico que manterá "a maior bandeira do País e uma das maiores do mundo" sempre desfraldada».

Pequeno detalhe: custará 1.000.000 de euros, ou seja 10.000 euros = 2.000 contos por metro (até contei duas vezes os zeros…), incluindo o preço do vento, claro.

Aparentemente, a Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República também está metida no assunto.

Sou eu que estou doida ou isto não tem pés nem cabeça? Seja quem for a pagar, mecenato parcial ou não, não se trata de um verdadeiro escândalo nos tempos que correm? Se isto é que é uma crise...

P.S. 1 – Houve quem não acreditasse na notícia. Pois então oiçam o presidente da Comissão para o Centenário da República.

P.S. 2 - E a saga continua: primeiro falou o PS que diz que Paredes deve estar a querer competir com a Coreia do Norte, mais tarde o presidente da Câmara, através de quem fiquei agora a saber que a bandeira terá 46 por 26 metros e que será vista a 30 kms de distância. Oiçam que vale a pena.

14.12.09

Imprevidências


«Não temos carreiras a construir, eleições a ganhar, clientelas a quem agradar»




Ler mais aqui.

«Se no seu tempo houvesse aviões, Cristo também andaria com cama, salão social e capela atrás de si»



















E se Manuel António Pina tivesse escrito esta crónica há dois dias, ter-me-ia poupado o esforço.

«O padre que, na infância, nos dava a catequese pregava a pobreza no púlpito mas, fora dele, tinha vinhas e senhorios e dizia-se que pagava as jornas mais avaras da região. Um dia em que apareceu com um carro novo, um Taunus azul escuro, o Américo, filho do taberneiro, pôs-lhe uma inocente questão teológica: porque é que Cristo andava a pé ou de burro e não de automóvel? O padre António ofendeu-se; respondeu que burro era ele, Américo, porque no tempo de Cristo não havia automóveis e que, se houvesse, Cristo teria um carrão. Nesse dia, a catequese foi sobre o pecado da inveja e o Américo teve que prometer que se iria confessar. Ocorreu-me esta história ao ler no DN que o Papa virá a Portugal (três horas de viagem) num avião adaptado para lhe assegurar o máximo conforto. "O espaço ocupado pela 1.ª classe terá um quarto com cama para o Papa, outro para o seu secretário pessoal, uma casa de banho com chuveiro, um salão social e até uma pequena capela". Aprendi a lição do padre António e não duvido que, se no seu tempo houvesse aviões, Cristo também andaria com cama, salão social e capela atrás de si.»

Um Berlusconi chileno?


















A direita ganhou a primeira volta das presidenciais, o que nunca tinha acontecido desde Pinochet – péssimas notícias quando o candidato é conhecido como «el Berlusconi chileno».

13.12.09

Campeonato ou cruzada?















E Praga, afinal, aqui tão perto!

«Me da vergüenza decirlo, pero en mi país los demonios de la intolerancia estuvieron de fiesta el día de los Derechos Humanos.»














Quem o diz é Yoani Sánchez, a propósito do que se passou durante a manifestação das Damas de Blanco, que já referi.

E continua:
«Ya no tienen ni siquiera una ideología, de ahí que sólo les quede manejar los resortes del temor, apelar a los “ejemplarizantes” actos de repudio para detener la creciente inconformidad. Sin embargo, en los rostros de esos convocados al linchamiento social se podía percibir como la duda alternaba con la furia y la exaltación con los temblores de saberse observados y evaluados. Por doloroso que sea, es fácil prever que quizás un día una multitud igual de irreflexiva y ciega dirija su cólera hacia los que hoy azuzan a unos cubanos contra otros.»

Entretanto, a televisão cubana justificou assim os acontecimentos:


Roma-Lisboa: 3h55’














12.12.09

O mundo às avessas



















Que há gente muita rica em Angola não é novidade para ninguém e o último número da revista Visão não revela nada de absolutamente extraordinário sobre o poder de compra que a elite angolana exibe em Lisboa e em Luanda. Mas uma coisa é o conhecimento num plano genérico e outra, bem diferente, é a crueza dos casos concretos, que se cola a pele e não é fácil sacudir.

Ler que há quem venha propositadamente a Portugal para ir ao cabeleireiro, eventualmente tendo esperado dois dias para ter lugar em classe executiva (pelo qual pagou um excesso de 5.000 euros para uma curta viagem de sete horas), que há «homens de negócios atarefados» que passam 24 horas em Lisboa para consultas em clínicas de estética, onde são evidentemente tratados com todas as mordomias, que se compram facilmente relógios de 900.000 euros (sim, 180 mil contos) e casas de 6 milhões, provoca-me uma revolta e um nojo incomensuráveis.

Tudo isto é horrível sejam quais forem as circunstâncias, mas é bem mais grave quando se sabe que muito deste luxo é o resultado directo e descarado de corrupção, num país com uma insegurança inacreditável onde ainda se mata para roubar um telemóvel e onde se vai para a prisão por delito de opinião. E, sobretudo, quando mais de 60% da população vive abaixo de níveis médios de pobreza, mais de 1/3 terço na condição de deslocado, o índice de mortalidade infantil é dos mais elevados do mundo, mais de 100 mil pessoas são mutiladas de guerra, etc., etc., etc...

Estes meninos foram enganados: