12.7.14

Nos idos de 1971 – a propósito da morte de Charlie Haden



O nome de Charlie Haden (CH) não vem no cartaz, porque não era ainda dos mais notáveis, mas foi ele que ficou ligado a um episódio gravado para sempre na memória dos que assistiram a este primeiro Festival de Jazz em Cascais.

Amália Rodrigues, Zeca Afonso, Alexandre O'Neil e Adriano Correia de Oliveira estiveram entre as 12.000 pessoas que, com dificuldade, conseguiram bilhetes e que viram, com espanto, Haden curvar-se para o microfone e dedicar a canção «Song for Che» aos movimentos de libertação dos negros em Angola e Moçambique. Uma mola pôs as bancadas de pé e os punhos erguidos, quando pendiam já dois panos com as inscrições «Guiné Livre» e «Abaixo Guerra Colonial».



Nos primeiros 7 minutos deste vídeo, o próprio CH relata o que se seguiu: a detenção pela PIDE, o seu espanto («Unbelievable!»), o facto de a polícia lhe ter dito que não devia misturar politica com musica!...



(Mais detalhes aqui.)

Para quem lá esteve – e eu estive – ficou a gratidão por este apoio, num pavilhão mais ou menos inacabado e onde havia uma quantidade inimaginável de pó!

É isso: 20 de Novembro de 1971 foi jazz, sem dúvida, Miles Davis, Ornette Coleman and friends, mas restou sobretudo Charlie Haden e pó, muito pó – como nas nossas vidas, nesses anos de chumbo, que precederam o 25 de Abril. 



P.S. – Aqui, vê-se o incidente:


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