«Tenho o orgulho de comunicar a todos que sou o José Régio das modas. c Nessa secção do supermercado é que eu, neste momento, não entro mesmo. À cautela, não compro chocolate algum, seja qual for a sua nacionalidade — até porque, em alturas como esta, os outros produtos tentam imitar o produto que está na moda. Vários chocolates adoptam estratégias para passarem a ser semelhantes ou iguais ao chocolate do Dubai, mas eu, além de rejeitar as modas, também rejeito quem adere às modas. Não são só os chocolates. Vários produtos se submetem à moda, e é fatal que apareça café com sabor a chocolate do Dubai, sabonete que cheira a chocolate do Dubai, meias da cor do chocolate do Dubai.
Imagino que este meu nível de sabedoria seja surpreendente. É uma sensatez obtida através da análise das últimas 150 modas parvas, que acabou por me tornar especialista em modas parvas. Assim como não vou ingerir o chocolate do Dubai em 2025, não adquiri um dispositivo giratório de plástico em 2017, não despejei um balde de água gelada sobre mim mesmo em 2014, e não fingi montar um cavalinho imaginário ao som de uma música coreana em 2012. Fui verificando que quem embarca nas modas experimenta uma excitação intensa durante uma semana, e depois mergulha numa melancólica desilusão nos meses seguintes. Mas, ao passo que a excitação é exibida online, a desilusão não beneficia da mesma publicidade. Ninguém deseja confessar que, depois de passar duas horas na fila para comprar chocolate do Dubai, chegou a casa e constatou que aquilo era mesmo muito parecido com qualquer outro chocolate que se deixa remover da prateleira em menos de dois segundos. E aposto que fizeram essa observação introduzindo um quadradinho na boca ao mesmo tempo que contemplavam, abandonado numa prateleira, um tear de loom bands de 2013, cheio de pó, com uma pulseira de elástico inacabada.
A única maneira de obter alguma satisfação é, parece-me, agrupar várias modas parvas, esperando que a acumulação de três ou quatro modas parvas consiga produzir um entretenimento não-parvo. Tenho recomendado às pessoas que me rodeiem que comam o chocolate do Dubai ao mesmo tempo que caçam um Pokémon, enquanto fazem planking. Sugestão que é, invariavelmente, reputada de parva. Logo, pode muito bem ser que se torne moda.»
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