9.10.11

Era uma vez a Cultura


Vi ontem esta entrevista que António José Teixeira fez a Francisco José Viegas (FJV), secretário de Estado da Cultura. Muito haveria a dizer sobre a mentalidade subjacente à abordagem de quase todos os temas abordados, mas restrinjo-me ao que está a ter hoje mais impacto: a questão da gratuitidade da entrada nos museus, concretizada neste momento entre as 10 às 14 horas de Domingo, e que o governo terá decidido eliminar reduzindo-a a um dia por mês (avançar para o minuto 47:14).



FJV afirmou que apenas 36% das entradas são pagas e que o ideal seria que essa percentagem subisse para 80. Certamente que o diferencial não corresponde à gratuitidade semanal de 4 horas e fica-se à espera de perceber se também serão eliminados os actuais descontos (questão abordada en passant…) e as entradas gratuitas em visitas das escolas. É bem provável…

FJV declarou também, sem pestanejar, que a decisão tinha sido tomada depois de ouvidos os responsáveis principais dos museus. Acontece que estes já vieram negá-lo, categoricamente, por exemplo na pessoa de Luís Raposo, presidente do Conselho Internacional de Museus, que ouvi esta tarde, em trânsito, na TSF. (Vale a pena escutá-lo.)

«Desde Julho que estamos a pedir uma audiência ao secretário de Estado e ela ainda não foi concedida, e sei, pelo contacto que tenho com a outra associação de museus, que existe em Portugal, que também ainda não foram recebidos. Portanto, não sei a que representantes de profissionais dos museus se refere o secretário de Estado quando diz que os recebeu», revelou o presidente do ICOM, acrescentando que este «é caso único porque é tradicional e da boa praxe democrática que se ouçam os profissionais representativos como é o nosso caso».

«Isso é uma situação que não existe em parte nenhuma do mundo civilizado, do mundo ocidental. Estaríamos numa situação perfeitamente sui generis de procurar que 80% das pessoas que se deslocam aos museus tenham de pagar bilhete.»

Assim vamos e estamos conversados. Com mais inverdades (para quê não ser meiga…) e decisões de vão de escada, que, segundo os responsáveis ouvidos, têm impactos muito negativos e um retorno financeiro irrisório. Porquê e para quê? Showing off para alemã ver?

P.S. - Ouvir também o do antigo director do Instituto de Museus e Conservação.
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2 comments:

Anónimo disse...

Eu até li, com algum agrado, uns livrinhos desse cavalheiro. Mas resolvi deixar de ler o que quer que ele escreva, ao ver a sua cumplicidade no "extermínio" do Ministério da Educação, quando aceitou ser secretário.

Bem sei que a vidinha custa muito, mas...

Simão Gamito

Nuno Oliveira disse...

Havia-me esquecido de que não temos Ministro da Cultura.
Já não me lembrava de que o Secretário de Estado da Cultura era Francisco José Viegas, pessoa de quem partilhava opiniões e admirava (algum) pensamento.
A partir de hoje não esquecerei que uma coisa é estar no Governo e outra é estar fora.


Gostamos sempre de nos comparar com os países mais desenvolvidos do que nós.
Sem dúvida que é inteligente e salutar aprender com os exemplos válidos.
Na prática o que em Portugal acontece é um hibridismo podre e estúpido que só copia a parte que não interessa a ninguém (a não ser aos lóbis).


Quando os os museus Portugueses tiverem qualidade de forma e conteúdo que se tornem comparáveis aos melhores museus da Europa podem cobrar balúrdios de entrada que todos os visitarão.


Quando a maioria dos Portugueses partilhar o interesse médio pela Cultura quantitativamente comparável com os melhores exemplos europeus podem cobrar balúrdios de entrada que todos visitarão museus.


Enquanto prosseguirmos na linha política da estupidificação das massas para maior colheita de votos não acontecerá nada do que até agora se disse.


Acho mal que se passe a cobrar entrada nos museus com todas as condicionantes inerentes à pequena reflexão que aqui fizemos.


Parece-me normal que se cobre a entrada nos museus à luz da teoria embrutecedora de quem se quer manter apoiado à custa da cegueira do seu semelhante.