19.5.25

A caminhada do Chega para o poder

 


«Ainda não vieram os resultados da emigração, que não permitem perceber se o PS se manterá em segundo lugar. Mas, com 58 deputados cada um, é praticamente impossível não ficar atrás no número de deputados, já que o Chega deverá eleger dois em quatro.

A política portuguesa mudou. A AD venceu, conseguindo que a queda do seu governo, provocada por ele próprio, o beneficiasse. Mas não é essa a mudança. Já aconteceu no passado e, bem vistas as coisas, a subida não lhe permite construir uma maioria para governar com a IL. Foi pífia. O que mudou tudo é, obviamente, o Chega.

O que muda é o Chega ser, a partir de hoje, candidato ao poder. Nem sequer é claro que não venha a ser o líder da oposição. O cenário pode ser bom para Ventura. Se vier uma crise económica, com a imigração colocada no centro do debate político pela AD (que não conquistou um voto ao Chega com essa estratégia) e, mal as coisas fiquem mais feias, os casos de Montenegro prontos a regressar (o eleitorado liga à ética quando falta o dinheiro), tudo jogará a seu favor, agora que é visto como candidato ao poder.

Mas este resultado também traz um problema ao Chega: se é candidato ao poder, se desta vez já não lhes chega a abstenção para barrar ou aprovar qualquer coisa, a neutralidade já não é uma hipótese. E isso obriga o Chega a repensar a sua tática. Não é a moderar-se. Não é a tornar-se mais propositivo, já que nem tem capacidade para isso. É preparar uma caminhada em que o voto para “abanar o sistema” não chega. A caminhada para o poder.

A pressão para um PS enterrado nos escombros da hecatombe da noite de ontem será para viabilizar o próximo governo. E não apenas a tomada de posse. Talvez José Luís Carneiro venha a ser escolhido para fazer de morto, o que até faria sentido. Nunca um líder que se prestou a isto – Marcelo e Mendes – chegou a votos. Problema? É que quando este governo falhar, ou quando as pessoas perceberem que falhou, dependendo do ponto de vista, não é o PS que se apresentará como alternativa. É o Chega.

Certo, é que o ambiente político vai mudar muito. Não apenas nas instituições, mas no espaço público. O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior já teve um gostinho dessa mudança. Isso, que talvez seja o mais importante nos próximos tempos, deixo para depois.


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