Crónica de Diana Andringa, na Antena 1, em 4/2/2014:
Há cinquenta e três anos, na madrugada do dia 4 de Fevereiro de 1961, munidos de pouco mais do que catanas, grupos de nacionalistas angolanos atacaram em Luanda a casa de reclusão militar, a cadeia civil do bairro de São Paulo, a cadeia da 7ª esquadra da companhia móvel da Polícia de Segurança Pública, a Emissora Oficial de Angola e o edifício dos CTT. A operação visava a libertação dos presos políticos, nomeadamente os do chamado Processo dos 50, e foi reivindicada pelos dirigentes do MPLA no exterior, mas ainda hoje subsistem discussões sobre qual a organização que a promoveu.
Eventualmente precipitada pelas notícias de que o paquete Santa Maria, tomado pelo Directório Ibérico de Libertação e rebaptizado de Santa Liberdade, poderia rumar a Angola, a acção decorria de um sentimento nacionalista que a independência do vizinho Congo belga e a repressão sobre os trabalhadores da Cotonang, no massacre da Baixa do Cassange, acicataram.
A escolha da data como marco inicial da luta de libertação é ainda motivo de debate em Angola, mas bastará olhar para os jornais portugueses da época para ver a sua importância em termos do regime português.
No ano em que se comemoram o quadragésimo aniversário do 25 de Abril, com o seu D de descolonizar, lembro o 4 de Fevereiro como princípio do fim do regime de Salazar e Caetano. Com uma história muito pessoal: presa pela PIDE a 27 de Janeiro de 1970, tive, nesse 4 de Fevereiro – dia de aniversário da minha irmã – visita da família. Pedi que me trouxessem uma toalha de rosto vermelha. Suponho que nenhum familiar se interrogou sobre o porquê da insistência na cor. Quando, acabada a visita, de volta a Caxias, me entregaram os pertences, corri para a janela, hasteei, nas grades, a toalha vermelha e acreditei, apesar do isolamento, apesar do medo, que havíamos de vencer.
Percebam, portanto, que abra as comemorações do 25 de Abril com a memória do 4 de Fevereiro.
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