Até ao fim do corrente mês, a França vai enviar 700 ciganos para os seus países de origem, Roménia e Bulgária. Partem hoje para Bucareste os primeiros – na maior das legalidades, diz a França, calando preocupações recentemente expressas pela União Europeia e apesar de a ONU ter falado de «política de humilhação» e de «visão degradante da acção pública».
Convém talvez lembrar que estamos a falar de cidadãos europeus (desde Janeiro de 2007) que beneficiam do direito de livre circulação. Mas, durante sete anos, estão ao abrigo de um «regime transitório» que lhes restringe o acesso ao mercado de trabalho assalariado.
Motivos possíveis para expulsão neste período transitório? Estar-se «não activo», sem provar que se dispõe de recursos suficientes para viver ou (obviamente…) ser considerado «uma ameaça para a ordem pública».
A Europa com os seus muros, físicos ou burocratas, a proteger os jardins dos palácios enquanto é possível. Como se a transumância forçada de umas dezenas dos seus cidadãos resolvesse os verdadeiros problemas e eliminasse crises que teimam em não passar.
«A verdade é que 79% dos franceses apoiam o desmantelamento dos acampamentos. E isso é o que importa a Sarkozy, candidato à reeleição em 2012», diz hoje o DN.
Exacto. Quem vier depois, disto e de muito mais, não se esqueça de ir a Bruxelas apagar as luzes do Berlaymont.
P.S. - Rui Tavares: «Estamos a assistir, em diversos planos, ao desfazer dos fundamentos da União Europeia e um dos fundamentos da UE é certamente a livre circulação de pessoas.»
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7 comments:
Surpresa? Nenhuma, infelizmente. Estava anunciado, e não se anunciam coisas destas para depois não cumprir.
Nestas slturas não me ocorre mais nada senão vergonha. Uma enorme vergonha.
Imagino os resultados duma auscultação sobre este tema entre nós - o tal país de bons princípios.
Tem razão, Joana, o tema inspirou-nos em paralelo. Aliás, atrevo-me a dizer que há mais drama na elevada concordância com o gesto que no próprio gesto e na escolha de o mediatizar. O que é aterrador.
Exacto, Paulo, o ponto a que se chegou!
De longe, e não acompanhando o assunto, parece-me algo ainda de mais profundo. São "nómadas" (o termo vale o que vale), algo que não cabe nos "sedentários". É mais do que perseguir "cidadãos" "europeus" (é também, mas não só). É definir o que são "cidadãos" e "europeus".
Enfim, é (infelizmente) acreditável.
Isso mesmo. Li aliás um texto em que era dito isso mesmo: os considerados «nómadas» são sempre proscritos - e hoje mais do que nunca.
Eu gostava de saber como se consegue dissociar isto e da lei da nacionalidade francesa, da proibição da burqa em espaços públicos.
Está ligado, sobretudo à questão da nacionalidade. A história da burqa considero-a diferente.
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