12.5.16

Ministérios da Magia



«Em "Harry Potter e a Ordem da Fénix", o Ministério da Magia é inspirado em Whitehall, o nome da avenida no centro de Londres onde ficam os Ministérios. É lá que os trouxas, as pessoas normais, habitam. São normais porque não fazem magia, apenas aplicam truques.

Portugal é, neste momento, uma larga avenida onde Governo e oposição já não fazem magia: limitam-se a truques que vão entretendo o povo enquanto esperam que o destino resolva os problemas do país. Portugal está dividido e fragmentado. O problema é que a sucessão de truques cansa: cada um debate consigo próprio as questões que cindem os portugueses. Isto enquanto a economia se degrada e se torna evidente que o modelo do "Portugal exportador" se constipa seriamente quando Angola, Alemanha, China e Brasil se retraem nas compras. E o desemprego aumenta (algo que continua a não merecer a mínima atenção da UE, só preocupada com a austeridade). PSD e CDS julgam que acharam o calcanhar de Aquiles do Governo (a questão da "liberdade de ensino") e este tem de vir em auxílio de um ministro, Brandão Rodrigues, que não soube explicar que o que está a acontecer agora é o resultado da política de Nuno Crato de destruição da escola pública. Tudo é debatido num espírito de gritaria e de piquenique para que perceba que, em Portugal, o debate político continua miserável como sempre. Apenas está mais radical.

O país sofre na pele os efeitos da "grande moderação" e da impotência crescente do BCE para cumprir as suas promessas de elevar a inflação. Tal como é incapaz de atrair novo investimento a sério e de fazer com que se perceba o mistério da solidificação da liquidez que não chega à economia real (um fenómeno europeu) e que a Alemanha é hoje o grande entrave à recuperação do Velho Continente. Vivemos num mundo ditado por diferentes Ministérios da Magia, sem um GPS que nos guie entre o que é fulcral e o que é acessório. Afinal esta crise não apenas destroçou economias e torrou vidas: acabou com modelos fiáveis. Por isso chega de truques.»

Fernando Sobral

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