2.1.24

Pobres cada vez mais pobres

 


«Num novo ano que começa, os países em desenvolvimento continuam a sua preocupante escalada de pobres cada vez mais pobres. Recentemente, o relatório anual do Banco Mundial salienta que, pela primeira vez neste século, estes países reembolsaram mais empréstimos do que contraíram, o que vem confirmar a preocupante tendência para a redução do financiamento internacional para os países mais pobres.

É que os novos empréstimos têm sido sujeitos a uma taxa de juro mais elevada, seguindo assim a trajetória de aumentos levados a cabo pelos principais bancos centrais mundiais, no qual se inclui o “nosso” Banco Central Europeu. Esta é uma circunstância que aumenta a pressão sobre países que, como Angola, já tinham sido fortemente afetados pela crise dos preços do gás, do petróleo e dos alimentos em consequência da invasão da Ucrânia. Boa parte dos escassos recursos acumulados, sobretudo dos mais empobrecidos, escapam-lhes entre pagamentos financeiros, alimentares e energéticos. Não é por acaso que Moçambique dedica 37% da sua riqueza para pagar a dívida externa.

Uma combinação explosiva entre os aumentos das taxas, da valorização do dólar e do declínio dos novos financiamentos resulta num aumento notável do serviço da dívida, sem que para isso façam alguma coisa. É como o aumento da prestação da casa no orçamento familiar: aumentou porque aumentou. Essa subida atingiu máximos históricos, cerca de 443 mil milhões de dólares anuais, e com a perspetiva de continuar a crescer nos próximos anos. Se estes países começarem a ter dificuldades em pagar os empréstimos, pode afetar todo o sistema financeiro.

Com a dívida a crescer por via do aumento das taxas de juro, o dinheiro que deveria ser alocado à educação, à saúde ou às infraestruturas diminui, comprometendo gravemente o progresso de muitos países. Além disso, as guerras na Ucrânia e em Gaza puseram em causa os princípios básicos em que se baseia a ordem internacional. Dito de outra forma, os países com menos recursos estão a pagar um preço elevado pelos efeitos económicos de ambos os conflitos e é pouco provável que mantenham o seu apoio aos mais ricos.»

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