2.3.25

A “vítima” Montenegro escolhe a espada: eleições

 


«Luís Montenegro decidiu oferecer aos portugueses um espectáculo de vitimização – o primeiro-ministro não reconhece qualquer erro no processo da empresa, mas diz-se vítima de perseguição e acusa a perseguição à sua família – que será o mantra da campanha eleitoral, depois de ser chumbada a moção de confiança que o primeiro-ministro pré-anunciou.

Foi um pré-anúncio estranho, como se quisesse disfarçar que a crise política acabará por ser provocada por uma moção de confiança proposta pelo Conselho de Ministros. A fórmula verbal usada foi tão equívoca que Montenegro até “desafia” primeiro os partidos a definirem-se sobre se estão dispostos a aguentar a situação tal como ela está.

Objectivamente, o primeiro-ministro prefere – mas de longe – que sejam os partidos da oposição a apresentar moções de censura, para que o ónus da crise não caia sobre os ombros do Governo. A frase é muito clara: “Desafio os partidos a declararem sem tibiezas se consideram que o Governo dispõe de condições de continuar.”

O PCP decidiu imediatamente avançar com uma moção de censura, o que irá ao encontro dos desejos de Montenegro. Mas o PS já disse que votará contra esta moção de censura do PCP, inviabilizando a sua aprovação. O Chega já disse que apoia. Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, afirmou que era praticamente impossível que o seu partido o fizesse. Pedro Nuno Santos diz que vota contra a moção de confiança que o Governo apresentar, mas não irá viabilizar a proposta do PCP. A verdade é que o PS ainda está longe de estar pronto para eleições, ainda que o seu secretário-geral diga o contrário.

Garantido que está o chumbo da moção do PCP, servirá para Luís Montenegro dizer que se sente com a confiança do Parlamento e dispensa a crise política? Na verdade, já tinha dito na semana passada, depois de chumbada a moção do Chega, que a confiança no Governo estava renovada.

Em resumo, a frase do primeiro-ministro de que “a crise política pode ser inevitável” e que “por iniciativa do Governo só pode acontecer com apresentação de uma moção de confiança” abriu a crise política.

A situação de Luís Montenegro é tão complexa que, entre a espada e a parede, é mais fácil escolher a espada. A partir de tudo o que já se sabe sobre o primeiro-ministro e as avenças, e a ausência de explicações cabais sobre o assunto, será muito menos complexo eleitoralmente, para Luís Montenegro, avançar já para eleições do que deixar-se cozer em lume brando.

Com Montenegro, a partir de agora é sempre a descer - e deve ser esta comezinha lei da vida política que presidiu à decisão do primeiro-ministro de avançar, com aquela formulação equívoca, com a ideia da moção de confiança. Sim, o pior, para Montenegro, é ficar a aguentar o pântano que se instalou na vida do Governo.

Relativamente à empresa e às avenças, a única novidade foi que passou a propriedade para os filhos de 19 e 22 anos – e assim, sendo casado em comunhão de adquiridos, a saída da sua mulher da sociedade faz com que deixe também de ser co-proprietário.»


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