«Os últimos dias terão sido de profundo desencanto para os cruzados radicais que encontram na imigração a origem de todos os problemas de segurança do país, que não são assim tão grandes, em boa verdade, quando comparados com o que acontece noutras latitudes. De ações a intenções, vê-se e ouve-se um pouco de tudo, do fecho de fronteiras ao estilhaçar de direitos, da perseguição de minorias ao endurecimento do discurso xenófobo. A retórica dos saudosistas de um Portugal fechado e amordaçado, no entanto, conheceu um valente revés quando foram conhecidas as preocupações dos especialistas do Conselho Europeu. Passaram por Portugal e, pasme-se, ficaram muito preocupados com o discurso de ódio que visa, sobretudo, migrantes, pessoas ciganas, LGBT e negras. O relatório também indica aquilo que todos sabíamos, mas muitos procuram ignorar ou esconder: o discurso radical é incentivado por partidos como o Chega, o promotor maior da deriva securitária. Pelo que se viu esta semana, a preocupação de André Ventura devia ser redirecionada, porque a Polícia Judiciária desmantelou um grupo de extrema-direita que se preparava para atacar o Parlamento e discutiu uma invasão ao Palácio de Belém, residência oficial do presidente da República. Não, não eram imigrantes. São portugueses, tão ignorantes quanto violentos, que se julgam puros, criminosos bem armados e obcecados por uma mudança de regime, provavelmente porque não tiveram a má sorte de conhecer na pele as agruras do fascismo. É necessário recuar décadas para encontrar tamanha ameaça às instituições democráticas no nosso país. E, ironia sem ponta de piada, não veio de fora, nasceu cá dentro, onde deve finar rapidamente, se os tribunais fizerem bem o seu trabalho.»
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