15.7.17

Casas «deles» (6)



Carlos Páez Vilar, Casa - Museo Taller Casapueblo, Puta Ballena (perto de Punta del Este), Uruguai (2015).

CPV, uma das glórias do povo uruguaio, nasceu em Montevideu e morreu em 2014, com 90 anos. Viajou pelos quatro cantos do mundo, foi amigo de Picasso, Dali, Calder, Vinícius de Moraes e muitos outros. Homem de sete ofícios, dedicou-se não só à pintura, escultura e cerâmica, mas também ao cinema e à literatura. Em 1958, decidiu construir uma casa por cima das falésias de Punta Ballena e levou 40 anos a concretizar o projecto. A casa é hoje um Museu (mais um hotel e uma outra parte onde a família continua a viver).

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Dica (587)



"Irei dar água aos girassóis" (Godelieve Meersschaert) 

«Finalmente! Estou de novo a acreditar que a justiça existe e que estou a viver num país democrático. Não faço parte dos corpos gerentes da Associação Cultural Moinho da Juventude desde 06/01/2015, mas continuo a ser sócia do Moinho e moradora no Bairro do Alto da Cova da Moura. (…)

No dia 25 de novembro de 2016 a polícia agrediu gratuitamente um grupo de moradores que estavam a festejar a Santa Catarina. Partiram a cabeça dum morador, cuja esposa trabalha nas limpezas do Instituto Camões. O filho de 5 anos ainda hoje não consegue perceber porque é que a polícia agrediu o pai. Dois moradores ficaram com o braço partido. A Amnistia Internacional tem dado apoio para denunciar esta situação. Pessoalmente comecei a perder a crença na justiça. Comecei a questionar-me sobre as redes internas que proporcionam tantos arquivamentos. Hoje, encontrei uma vizinha de 79 anos. Ela suspirou: "Sim, alguns jovens portam-se mal, mas há polícias que os tratam como se fossem bichos. Ainda bem que serão julgados pelo que fizeram no dia 5 de fevereiro."» 
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O Pequenogate



Clara Ferreira Alves na Revista do Expresso de 15.07.2017 (Excertos):

«A história do Galpgate, assim uma espécie de Watergate à escala nacional, ou pequeníssimo-minúsculo-mesmo Watergate, o chamado crime pífio ao qual a nação há muito deu o seu consentimento, tem desviado as atenções de crimes gravíssimos que pelos vistos nem a mera suspensão imediata dos suspeitos provoca. Onde se lê suspeitos deveria ler-se arguidos, e o país atravessa o chamado período da arguição intensa e tresloucada. Quem não é arguido não é parte desta terra, é pior do que um infoexcluído, é pior do que um sem-abrigo, é um arguido-excluído. Tipo a quem não batem à porta com um mandado, a quem não fazem buscas no disco rígido e a quem não ordenam que compareça de fato e gravata e advogado à ilharga na PJ para ser constituído sem ser ouvido, ao estilo kafkiano, não é ninguém. (…)

Entretidos com os secretários de Estado que deveriam ser acusados de estupidez universal e não de recebimento de vantagem, esquecemo-nos dos agentes da autoridade da esquadra de Alfragide. Parece que este grupo de gente fardada, todos inocentes até prova em contrário e deixando de lado alegadas nódoas negras das presumíveis vítimas, ainda por cima de pele negra, onde as nódoas se disfarçam muitíssimo bem, se entreteve a espancar e torturar um grupo de cidadãos da Cova da Moura. Não são mouros, como o nome indicaria, e se fossem deviam levar na mesma por causa do terrorismo e assim, são africanos ou luso-africanos. Pretos, como se dizia no país colonial que sempre se gabou de não ser racista e é mais racista do que o sul da América. Um racismo que deriva da crueldade gratuita herdada do esclavagismo e não da convicção íntima da supremacia branca enquanto ideologia. É, digamos, um racismo brutal e brutalmente estúpido (e uso o adjetivo pela segunda vez). Não que isto se aplique aos polícias suspeitos. Nada disso. Ali, nas esquadras, são simplesmente coisas que acontecem. Um tipo passa-se e bumba, dá uma tareia no preto. Ou decapita um tipo, como aconteceu há uns anos, fornecendo ao escritor António Tabucchi, um italiano que gostava de portugueses e de Pessoa, tema para um romance. Tabucchi ficou, digamos, siderado. A decapitação foi abafada e a coisa esquecida, para variar. Tudo coisas que acontecem. Nas esquadras. De modo que ninguém viu nas acusações das vítimas e testemunhas motivo para suspender os polícias imediatamente, a aguardar julgamento, ou considerar a pronta transferência para um lugar onde os pretos não ponham os pés exceto para trabalharem nas obras. A esquadra da Quinta da Marinha seria excelente, e se não existe deve ser criada já para acolher os espíritos inquietos dos agentes da autoridade. Desde que não sobre por lá um jardineiro de cor, nesse caso considere-se a remoção coerciva do jardineiro antes da avisada transferência.

Nada disto parece, aos olhos da famosíssima justiça e chefes, excessivamente grave. Já um tipo apanhar um charter para ver a bola e regressar no charter, parece-nos perigosíssimo quando não passa de um ato perigosamente estúpido (terceira vez). Caramba, se eu sou a pessoa que rege os assuntos fiscais aceito uma boleia do tipo que preside a uma empresa que não quer pagar ao fisco apesar de fretar aviões e que me pôs em tribunal por assuntos fiscais? Não aceito. Vejo a bola em casa, com uma cerveja no colo e uns tremoços.»

(Texto copiado daqui.)
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Venezuela, um país esfacelado



O Bloco de Esquerda divulgou um extenso dossier sobre o estado em que se encontra a Venezuela que «atravessa uma situação muito complexa, com a sua população sofrendo uma brutal austeridade. Há mais de cem dias que os protestos são diários, tendo já morrido neles quase cem pessoas. Nas próximas semanas os riscos são ainda maiores.»

Para aqueles que acreditam que a Revolução bolivariana continua em marcha, com Maduro à cabeça, e que todo o mal vem de manobras do «imperialismo», há um comunicado do PCP, ontem publicado. 
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Tremam de aborrecimento: vamos para a «silly season» em plena estagnação política



José Pacheco Pereira no Público de hoje:

«Às vezes acontece que as coisas param, o que não é muito normal. Mas a verdade é que, no plano estritamente político, o país está parado, para não dizer estagnado. Esta linha flat não se estende para tudo, bem pelo contrário. No plano económico, social, cultural, e outros mesmos de intersecção entre a política e a sociedade, algumas coisas estão a mudar, mas a estagnação política reduz o ritmo de tudo. O que é que eu quero dizer quando afirmo que em matéria política tudo está parado? Que não estão em curso factores de mudança no plano político, nem no lado do Governo, nem da oposição, que permitam sair da estagnação. Podem acontecer amanhã – sei bem que a história faz-se por surpresas imprevisíveis –, mas não existem hoje.

Explico-me. Do lado do Governo, três partidos convergem numa solução política sui generis, mas muito estável. Há uma razão para essa estabilidade: o facto de esta aliança político-parlamentar-governativa ser vantajosa para todos os seus parceiros e nenhum achar que fora dela teria mais vantagens. Não há no PS, nem no BE, nem no PCP nenhum movimento interior que conteste a aliança actual. No PS, a oposição que veio do sector de António José Seguro está limitada a meia dúzia de vozes que se manifestam sempre que alguma coisa corre mal ao Governo e a António Costa, mas fala muito sozinha. Do lado do interior do PS está tudo morto, como, aliás, é normal que aconteça em partidos deste tipo quando estão no poder.

Do lado do BE não há nenhuma corrente significativa que ponha em causa a aliança parlamentar, nem sequer vozes isoladas que reflictam sobre o que ela significa para a esquerda radical. As que havia saíram pelo seu próprio pé do BE, umas desejando, numa altura em que isso não era muito previsível, uma maior aliança com o PS, o partido Livre; e outras, mais radicais e que se oporiam a estes acordos, para o MAS. Uma parte da dinâmica das tendências do BE é internacional e tem que ver com as correntes do trotsquismo, mas com o MAS tornou-se exterior.

No caso do PCP, ainda menos se vê qualquer oposição ao acordo, bem pelo contrário. Ocasionalmente a imprensa apresenta umas vozes como sendo mais críticas do acordo com o PS, particularmente nos meios sindicais, mas se há parte da constelação de organizações do PCP que beneficia com este acordo é o movimento sindical. Nenhum partido mais do que o PCP, nem sequer o próprio PS, beneficiou mais com este acordo, que travou a ofensiva anti-sindical que era uma das linhas de actuação mais consequente dos partidos da PAF, o PSD e o CDS. O PCP e a CGTP não conseguiram reverter nesta área muitos dos estragos causados pela governação pró-troika, a não ser nalguns aspectos da contratação colectiva, mas conseguiram um efeito de travagem e um tempo de respiração de que precisavam com urgência. Daí que a conflitualidade social seja hoje em grande parte simbólica, ou nas margens de negociação consentidas pelo acordo.

Não vale a pena, por isso, os comentadores ligados ao PSD e CDS e ao sector mediático da direita verem divisões e crises onde elas não existem, porque, por razões puramente racionais e de vantagem, ninguém quer romper o entendimento que permitiu a “geringonça”. Não há pois aqui factores de mudança, nem sequer de muita usura.



14.7.17

Casas «deles» (6)



José Estaline. Casa onde nasceu e viveu até aos 4 anos, Museu anexo e carruagem. Gori, Geórgia (2012).

A casa é humilde e nada tem de especial, o Museu é grande, cheio de fotografias, documentos e objectos bem apresentados. Mas, da primeira à última sala, visita-se um verdadeiro «monumento» laudatório ao estalinismo, no mínimo aterrador. Por uma decisão tomada pelo ministro da Cultura em 2008, estava previsto que o dito Museu fosse encerrado no fim do ano em que lá estive (2012) para reorganização e «actualização» do conteúdo, mas a Assembleia Municipal de Gori decidiu o contrário: deve ficar tal como está – e ficou… A carruagem, que já mostrei na série sobre Transportes, encontra-se em frente da casa. 



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Trump em França




Hoje, no fim da parada comemorativa da Tomada da Bastilha, uma banda do exército tocou Doft Punk. Vale a pena ver a cara de Trump.
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Marselhesa




Porque hoje é o dia dela. Apesar de Trump e dos outros, que o acompanham em Paris.
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Isaltino: Aprendam que ele não dura sempre


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António Barreto



Há mistérios, que não consigo desvendar: como é que alguém com os conhecimentos e o passado de António Barreto, por mais remoto que esse passado já seja, consegue dizer e pensar coisas como estas. 

Observador, 13.07.2017.
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O ferro-velho de Tancos



«Depois de o especialista em coisas com balas, Nuno Rogeiro, ter dito que o assalto a Tancos era o mais grave roubo de armas desde as Guerras do Ópio de 1860, o CEMGFA, Pina Monteiro, revelou que o valor do material roubado ronda os 34 mil euros e que os lança-foguetes roubados não devem poder ser usados porque eram material destinado para abate. O "não devem ser usados" é um aviso aos ladrões, não vão eles tentar usar aquilo e magoarem-se. Ainda queriam que o Costa viesse de férias por causa de 34 mil euros em fisgas para canários. Fazendo as contas, o maior prejuízo foi a rede.

No fundo, roubaram o equivalente a dez viagens ao Euro 2016. Se as armas roubadas não funcionavam, se calhar eram lança-rockets do SIRESP. Faz-me confusão tanto trabalho para roubar 34 mil euros em armas que não funcionam. Vai ter de haver demissões entre os criminosos. Se o CEMGFA diz que o valor do material roubado ronda os 34 mil euros, mais valia terem roubado o carro do general.

Se "os lança-foguetes roubados não devem poder ser usados porque eram material destinado para abate", se calhar, roubaram para fazer candeeiros. Começo a ficar convencido de que, afinal, as espadas que os oficiais iam entregar ao Presidente da República eram de plástico.

António Costa, depois da reunião com a tropa toda, veio dizer que, do roubo de material de guerra de Tancos, foram retirados ensinamentos. Já não bastava as armas, ainda retiraram ensinamentos. O pior é que, normalmente, em Portugal, os ensinamentos retirados acabam por nunca ser usados e vão para abate. Diz o PM que as armas roubadas não representam perigo para a Segurança Interna - qual segurança interna?! A que usa munição falsa para proteger um paiol de lança-rockets que não funcionam?! Eu acho um claro exagero chamar paiol àquilo.

No fundo, Costa veio dizer que, afinal, as armas eram de louro prensado e temos um Chefe das Forças Armadas que diz que o furto em Tancos "foi um soco no estômago". Foi um soco no estômago - foi o que disse o meu primo quando a namorada acabou com ele. Se o Chefe das forças Armadas considera o assalto a Tancos um soco no estômago, se houver um ataque terrorista, vai sentir o quê?! "Foi como se estivesse a ter dores de parto." "Foi como se tivesse uma pontada no pipi."

Conclusão de toda esta baralhada: afinal, foi a austeridade que nos safou ou, a esta hora, os criminosos teriam gamado armas que funcionavam e estávamos todos em perigo. É por estas, e outras, que a Merkel merece o Nobel da Paz.»  

Le 14 juillet




Grande capa para o Dia da Tomada da Bastilha!
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13.7.17

Casas «deles» (5)



Madre Teresa de Calcutá. Mother House, onde viveu e se encontra o seu túmulo. Local de «peregrinação», mesmo para ateus… Calcutá, Índia (2010).

Dica (586)



Venezuela, meu amor (Joana Mortágua) 

«O chavismo passou de projeto do povo a ditadura de caudilho, e não há democrata no mundo que aceite pactuar com isso. A tragédia que todos temos medo de antever só pode ser evitada pela realização de eleições presidenciais. É essa a saída democrática exigida pelo povo venezuelano, é a que exigiríamos se lá estivéssemos, sem esquecer os tantos portugueses entre a população diariamente sujeita às pilhagens e à miséria.
Bem sei que há uma esquerda cega que, 25 anos depois da queda do Muro, ainda acha que vale tudo na defesa de regimes pseudocomunistas. É escolha sua se Brejnev ainda lhes aquece os corações. A esquerda de que faço parte nunca foi ambígua sobre a condenação de regimes que oprimem o povo e sufocam a democracia. Isso vale para Angola e para o regime venezuelano, ainda que as calúnias da direita ignorante insistam que lhes temos amor.» 
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Morreu Liu Xiaobo

Aproveito para me demitir também



Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje:


Na íntegra AQUI.
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Não é possível ultrapassar o Correio da Manhã?


Ai é, sim.
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Portugal colapsou e então vai de férias



«Tudo era previsível.

António Costa respondeu à crise do incêndio e prometeu uma ambiciosa reforma da floresta, anunciou que a saúde seria o seu novo tema e, num momento pouco notado, lançou a campanha eleitoral com a Carris e os STCP. Lembrou a conversa de ontem com os generais e garantiu à esquerda que negociaria. Ministros todos na formatura e continuidade para 2018.

No PSD, espreitou o velho PPD. Montenegro tentou levantar as hostes insinuando-se contra Passos Coelho, temos candidato e vai ser mais depressa do que se previa, e para isso radicalizou o discurso da catástrofe: em poucos minutos, o Estado colapsou seis vezes, se bem contei, e até a democracia colapsou de caminho. O SIRESP, contrabandeado para o banco do PSD por um governo PSD-CDS, os créditos mal contados da CGD, idem, o falhanço da videovigilância em Tancos, idem, tudo veio à baila como “colapso do Estado”.

Quanto a Cristas, tentou a pose Portas: vivemos o “falhanço mais básico” da autoridade do Estado e a insegurança é aterradora, “a confiança quebrou-se”. Telmo Correia repetiu o seu número dos oito séculos que caíram na vergonha desta plebe ter tomado o lugar de sua majestade.

Nesta escolha do PSD e CDS está a boa notícia para o governo. Os partidos da direita escolheram desprezar o Presidente (o cuidador do Estado) e abandonar o debate económico. Vão pagar pelas duas opções. Pelo caminho, ensaiam uma curiosa efabulação: o governo não cuidava das contas públicas porque gastava demais e logo com as gorduras, as pensões e salários; agora criticam o governo por gastar de menos. Em resumo, “é verdade que economia cresceu e desemprego baixou” (Montenegro) e “a economia melhorou” (Passos) e fica tudo dito, é o que importa a quem se importa com a vida da gente.

Também à esquerda tudo previsível. Catarina e Jerónimo de Sousa negociaram condições e pediram garantias, a que Costa mostrou querer aceder. Nas entrelinhas, nota-se que o desacordo sobre as leis das florestas é profundo, mas o Primeiro Ministro deu voz aos critérios da esquerda, que aparentemente desagradam ao seu ministro. Têm poucos dias para se entender, ou é melhor adiar a votação das leis para setembro, o que seria um recuo para o governo.

No mais, houve algum desplante. Cristas acha que Costa “deserta” quando vai de férias mas prefere que não lhe lembrem o que ela própria assinou quando era ministra e andava de férias. Passos ainda está zangado por não ser primeiro ministro. Tricas e ninguém se importa com isso.

Tudo resumido, depois de o Estado ter colapsado e sabermos que vivemos em estado de pânico, esperava-se uma ou duas valentes moções de censura para salvar Portugal. Mas, no fim do debate, Passos e Cristas arrumaram as pastas e só pensam em ir de férias, como aliás boa parte da população.»

Francisco Louçã

12.7.17

Casas «deles» (4)



Pablo Neruda (que faria hoje 113 anos…) viveu nesta casa – «La Chascona» – até morrer. Santiago do Chile, Chile (2010).

«La Chascona»: palavra quíchua que significa «despenteada» em homenagem ao cabelo ruivo e selvagem da sua amada secreta, Matilde Urrutia, para quem mandou construir esta casa em 1953. Dois anos mais tarde Neruda deixou a mulher com quem era casado e foi viver também em «La Chascona». Entre o 11 de Setembro de 1973, que vitimou Allende e o seu regime, e o dia 23 do mesmo mês quando Neruda morreu numa clínica de Santiago, a casa foi vandalizada, mas foi lá que teve lugar o seu velório por decisão de Matilde. Esta viveu em «La Chascona» até morrer, em 1985, e o local foi depois transformado em Museu, destinado a difundir a obra do poeta. (De lá trouxe uns livros e uns cds com a sua inconfundível voz.) 
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Dica (585)



O emprego na sociedade do futuro (Arlindo Oliveira) 

 «Parece-me muito provável que uma fração significativa da população não tenha, no futuro, empregos satisfatórios e bem pagos, muitos dos quais poderão ser executados por robôs ou agentes inteligentes. Se isso vier a acontecer, toda a estrutura da sociedade terá de ser revista.» 
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PSP: Não acontece nada a quem faz afirmações destas?




«O Presidente do Sindicato dos Profissionais de Polícia diz que para manter a ordem pública é sempre necessário cometer excessos. António Ramos considera que a atuação dos agentes da PSP de Alfragide, acusados de racismo contra detidos, foi "correta".» 
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Isto é título que se escolha para o debate do Estado da Nação?



Público de 12.07.2017. É possível descer mais em termos editoriais?
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Tancos – também me parece que vamos acabar nisto



… depois da conferência de imprensa de ontem, de António Costa mais chefe das tropas. 
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Manobras militares



«Clausewitz dizia que a guerra era muito parecida com um jogo de cartas. Para ele, ninguém iniciava uma guerra sem ter uma ideia clara sobre o que pretende alcançar e como deve fazê-lo.

Ou seja, a primeira ideia é um objectivo político; a segunda, um objectivo operacional. A política, mesmo no tempo do Twitter e do Facebook, guia-se pela mesma lógica. Quem o não fizer arrisca-se a ficar em campo aberto e a ser abatido sem dó nem piedade. Se Tancos demonstrou uma total falta de concretização de estratégia militar, um vírus que rapidamente contaminou os responsáveis políticos e a chefia do Exército, a nível político os tempos são de limpar armas. Os objectivos de cada líder são díspares. O de Jerónimo é resistir. O de Catarina é manobrar. O de Assunção é atacar. O de António Costa é esperar. O de Passos Coelho é mais difícil de identificar. O líder do PSD tem optado pela mais difícil estratégia de oposição: o alpinismo político. As autárquicas revelarão se chegará ao cume do Evereste ou se se estatelará cá em baixo.

Por trás de Tancos, de Pedrógão e das demissões dos secretários de Estado, tudo a olhar para as manobras de Outono, a seguir às autárquicas. Aí se começará a perceber melhor que objectivos políticos moverão os principais generais em campo. Por isso, António Costa não está em pânico: a pressa é inimiga das melhores decisões. E os resultados das autárquicas determinarão o que quer fazer a seguir. No caso, se quererá eleições antecipadas. Só uma maioria clara permitirá impor o seu plano. Que passará muito pelo previsível clima económico mais desafogado, que será propiciado pelas instâncias internacionais. As obras públicas virão a seguir. Até lá discutem-se questão de pantomina: se o gin tónico sabe melhor com ou sem pepino ou se o cozido à portuguesa sabe melhor com couve nacional ou com couve-de-bruxelas. A irrelevância típica do debate partidário nacional vai assim continuar durante o Verão. À espera do resultado final do jogo de cartas: quem ganhará as autárquicas?»

Fernando Sobral

11.7.17

Casas «deles» (3)



Simón Bolivar morreu, em 17 de Dezembro de 1830, na Quinta de San Pedro Alejandrino. Santa Marta, Colômbia (2012).

Bolívar esteve poucos dias nesta Quinta, onde esperava por um barco que o levasse a Espanha para ser submetido a tratamentos de males pulmonares. Mas é a tal ponto objecto de «culto», em grande parte da América Latina, que a Quinta é ainda hoje local de visita obrigatória e a casa se mantém especialmente bem cuidada e rodeada de magníficas árvores e espaços verdes (onde se passeiam simpáticas iguanas…).




Manifesto – Pela nossa saúde, pelo SNS



Manifesto em defesa do SNS
«Signatários esperam reunião com o primeiro-ministro para debater soluções para a sustentabilidade do sistema público de saúde»

Texto do Manifesto:

A razão de os signatários se dirigirem aos portugueses decorre da análise que fazem da actual situação no sector da saúde, a qual, quase a meio do mandato do governo, permanece sem sinais de mudança que alterem a natureza do modelo de política de saúde, promovendo a saúde dos portugueses, reabilitando e requalificando o Serviço Nacional de Saúde. O qual dificilmente se verificará sem a contribuição activa dos actores sociais e políticos das comunidades.

O sistema público de saúde carece do financiamento ajustado à sua missão: promover a saúde, prevenir e tratar a doença. Sem essa condição não só o SNS vai definhando, vendo reduzido um dos seus principais valores, a cobertura universal, como as respostas que vai dando são canalizadas quase exclusivamente, e já em condições precárias, para o tratamento da doença e para contribuir para o florescimento da prestação privada. Em seis anos (2009-2015) a despesa pública da saúde diminuiu 21%, tendo passado de 6,9% para 5,8% do PIB. Os signatários tomam, por isso, como referência a despesa verificada em 2009, que foi de 9,9% do PIB, um ponto percentual acima do verificado em 2015. Além disso, percentagem do financiamento público dos cuidados de saúde prestados à população é desde 2014 das mais baixas da Europa a 28 (66%).

O diagnóstico que melhor caracteriza a saúde da população é dado pelos seguintes indicadores-chave. (1) com 70% de esperança de vida saudável (2015), os portugueses tinham o mais baixo valor dos países do sul da Europa – Espanha, França, Itália e Grécia; (2) com 32% de esperança de vida saudável aos 65 anos, os portugueses ficam bastante aquém dos valores daqueles países; (3) no grupo etário 16-64 anos só 58% da população considerava que a sua saúde era boa ou muito boa, quando na Grécia ou em Espanha é superior a 80% (2015); (4) no grupo com mais de 64 anos aquela percepção é de 12%, sendo em Espanha e França superior a 40%; (5) mais de 50% da população tem excesso de peso; (6) em 2016 verificou-se o maior excesso de mortalidade da década, correspondente a 4 632 óbitos.

Nos setenta e sete hospitais da rede pública, cerca de 800 000 utentes aguardam com excesso de espera uma primeira consulta hospitalar, correspondendo a 30% das primeiras consultas realizadas em 2016. Esse excesso varia entre 2 e >800 dias. Mais de oitocentos mil portugueses não têm médico de família atribuído. Entre 2014 e 2016 verificou-se um aumento de 529 000 urgências.

Esta situação é já bastante preocupante. Continua a insistir-se num modelo de política de saúde exclusivamente orientado para o tratamento da doença e centrado nas tradicionais instituições de saúde. Quando a regra é ser-se saudável e a excepção é estar-se doente, a quase totalidade dos recursos são canalizados para a excepção, embora a promoção e a protecção da saúde sejam as intervenções que mais contribuem para melhorar o bem-estar das pessoas e das comunidades, e a estratégia que torna os sistemas de saúde sustentáveis. Do que se trata, por isso, não é de medidas avulsas que dificilmente se articulam entre si, mas de uma reforma que integre cuidados hospitalares, cuidados continuados, cuidados de saúde primários e intervenções em saúde pública, que inclua os actores formais e informais das comunidades locais e que incorpore o melhor conhecimento científico disponível.

Mas mesmo quando se trata da prestação de cuidados na doença, as limitações ao acesso mantém-se como o maior obstáculo aos serviços de saúde no momento em que são necessários, com as consequências negativas daí decorrentes para a condição dos doentes. Os tempos de espera inadmissíveis são disso a melhor evidência e o crescimento da afluência às urgências o pior sintoma da disfunção que reina no sector.

O excesso de mortalidade, verificado sobretudo entre a população idosa e durante o verão e o inverno, quando se verificam temperaturas mais extremas, exige que os cuidados domiciliários sejam mais frequentes e que tanto as autarquias como os serviços de segurança social façam um acompanhamento de maior proximidade respondendo às necessidades de cuidados de conforto que nestas alturas são particularmente sentidas.

No que se refere ao sector privado exige-se que a sua regulação se faça do lado do cumprimento de critérios de ordenamento das instituições de saúde, que a certificação inclua o preenchimento dos quadros de pessoal com a diferenciação ajustados à sua missão, às valências e ao volume de produção previsto, e que a demonstração dos resultados de gerência sejam obrigatórios e públicos.

As várias greves do pessoal da saúde – médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e outros trabalhadores -, em que se verificou tanto uma grande adesão desses profissionais como uma considerável compreensão por parte da população, representam sinais que devem ser entendidos e interpretados como manifestações críticas da situação que se está a viver no sector.

Os signatários deste Manifesto têm uma longa história de serviço público no Serviço Nacional de Saúde e de dedicação à causa da saúde. A maior parte deles contribuiu para que ele se implantasse nos primeiros anos da sua criação, foram seus profissionais empenhados desde então e bateram-se por diversas vezes contra os ataques que lhe foram movidos. Não estão, por isso, dispostos a assistir ao seu progressivo definhamento. Se, como é defendido, o SNS representa um dos mais relevantes serviços que a democracia tem prestado aos portugueses, então há que proceder à sua reabilitação e requalificação, alterando substancialmente o sentido da política de saúde. Passados 38 anos da sua criação, o SNS não pode ficar imóvel e alheio aos desafios que lhe são colocados. Nesta exigência estamos acompanhados pelos mais prestigiados peritos na matéria, como Ilona Kickbusch, David Gleicher e Hans Kluge da OMS, e Nigel Crisp, coordenador da Plataforma Gulbenkian Health in Portugal.

Por isso nos dirigimos também a todas as organizações partidárias que subscreveram os acordos de 10 de Novembro de 2015, na expectativa de que sejam sensíveis a esta necessidade inadiável e tomem as decisões que a situação descrita exige. Esta política de saúde já mostrou que não está a responder ao que é exigido de um governo que se afirma empenhado em dar uma orientação de esquerda às suas políticas sociais. Está, por isso, nas mãos da actual maioria parlamentar iniciarem o processo de mudança da política de saúde.

Lisboa, 10 de Julho de 2017

Assinaturas:
 

Por que será que hoje acordei com esta?



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Ele exonera, eles exoneram, eles exoneram-se



«O Presidente da República exonerou o tenente-general José Calçada das funções de secretário do Conselho Superior de Defesa Nacional (CSDN), soube o DN. (…)
A informação surge na sequência do jantar de ontem entre Marcelo Rebelo de Sousa e os quatro chefes militares e antecede a reunião desta tarde, em São Bento, do primeiro-ministro com o ministro da Defesa e as chefias militares para analisarem a segurança das instalações militares.
José Calçada foi nomeado secretário do CSDN por escolha do Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas, depois de ouvido o Governo. Segundo as fontes do DN, o tenente-general pediu ontem uma audiência ao Chefe do Estado - que não a concedeu e optou por exonerar o general.» 
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Uma “invasão a esquadra” inventada – Relatos da Cova da Moura e de Alfragide



A notícia saiu ontem à noite: «Dezoito agentes da PSP, entre os quais um chefe, vão ser acusados dos crimes de tortura, sequestro, injúria e ofensa à integridade física qualificada, agravados pelo ódio e discriminação racial contra seis jovens da Cova da Moura, na Amadora»

Entretanto, o Observatório do Controlo e Repressão já se manifestou, mas creio que é importante recordar, com detalhe, os factos ocorridos em 6 de Fevereiro de 2015, descritos pelo dito Observatório no próprio dia:.

«Invadidos por notícias de “invasões”, deixamos aqui (embora com mais actualizações para breve) o relato dos acontecimentos vividos hoje no Bairro da Cova da Moura e na Esquadra da PSP de Alfragide:

a) No início da tarde uma patrulha da PSP da esquadra de Alfragide invadiu o Bairro da Cova da Moura, numa acção de rotina que concluiu na detenção de uma pessoa;

b) Durante a acção, o detido – apesar de não ter oferecido resistência – foi agredido violentamente, de pé e depois no chão, pelos diversos elementos da PSP presentes;

c) Perante o elevado número de testemunhas (algumas talvez armadas com telemóveis que filmam) , a PSP tratou de “limpar” as redondezas com recurso a violência física. A todos aqueles que: pela distância, por estarem à janela ou em propriedade privada e por isso distantes do cassetete , a polícia optou pelo disparo de balas de borracha;

d) Entre as vítimas das balas contam-se: mãe e filho (de apenas três anos de idade) que foram encaminhadas para o hospital, a mãe foi sujeita a uma operação cirúrgica; uma mulher atingida na face que se encontrava à janela; dois deficientes físicos; e ainda um grupo de raparigas que se encontrava no espaço público;

e) Perante o caos instalado pela PSP, quatro cidadãos do Bairro, alguns colaboradores do Moinho da Juventude, cientes do seus direitos e preocupados com a situação criada, dirigiram-se à esquadra de Alfragide para apresentar queixa dos agentes e saber informações do detido na acção de Bairro;

f) Apesar da esquadra ser um espaço público com serviço de atendimento ao cidadão, isso não impediu que os quatro fossem agredidos por vários agentes, em franca maioria, e que recorreram inclusive, e novamente, a balas de borracha;

g) Um sexto indivíduo que se encontrava no espaço público da esquadra foi agregado pela PSP aos 5 previamente detidos;

h) Dada a natureza das agressões, os seis indivíduos foram assistidos durante várias horas no hospital Amadora-Sintra, e diga-se, estavam todos irreconhecíveis, tal a brutalidade da acção policial.

Durante todo o tempo de espera e desenvolvimento da situação dos detidos, a polícia apresentou-se nervosa, talvez consciente da dimensão do ocorrido. Vários polícias fardados e à paisana cobriam vários espaços do hospital de forma desconfiada, enquanto na esquadra faziam o possível por não exteriorizar, embora de forma infrutífera, a insegurança dos seus actos. Como se o cenário não fosse estranho o suficiente, ficamos a saber que um dos polícias da esquadra de Alfragide ostenta uma tatuagem nazi. É evidente que, por tudo o descrito e pelas notícias veiculadas pela PSP aos media, vão tentar acusar este grupo de cidadãos de um crime directamente proporcional ao erro grave cometido pela corporação. Temos de estar vigilantes e atentos. Afinal quem invade quem?» 
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10.7.17

Casas «deles» (2)



Ho Chi Minh viveu e trabalhou numa parte desta casa entre 1954 e 1958. Hanói, Vietname, (2009).


Dica (584)




«Así funcionan las dos principales rutas por las que cientos de miles de migrantes africanos transitan por el desierto del Sáhara hasta llegar a su destino en la EU.» 
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Quando dois porcos viraram almirantes



De vez em quando, gosto de recordar que também nos divertíamos na luta contra o fascismo.

Em Julho de 1972, as Brigadas Revolucionárias lançaram dois porcos nas ruas de Lisboa, no Rossio e em Alcântara, como reacção à farsa eleitoral que reconduziu Américo Tomás ao seu último mandato como presidente da República.

Estavam vestidos de almirantes (tal como Américo Tomás...) e untados para ficarem escorregadios. A polícia não conseguiu agarrá-los e teve de os matar à metralhadora. Grande sucesso nas ruas de Lisboa! Foram depois distribuídos panfletos, lançados por petardos, com o seguinte conteúdo:

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Tropa – isto está a ficar um pouco surrealista




«A próxima reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional, agendada pelo Presidente da República para dia 21, deverá sentar à mesma mesa o general que se demitiu na sexta-feira, em divergência com as exonerações de cinco comandantes de Tancos pelo chefe de Estado Maior do Exército, e o próprio visado. A passagem à reserva de Antunes Calçada não implica a saída deste órgão, mas exigirá uma gestão política delicada.
O tenente-general José Antunes Calçada, que no sábado passou à reserva depois de ter sido aceite o seu pedido de demissão do cargo de comandante de Pessoal do Exército, é o secretário do Conselho Superior de Defesa Nacional (CSDN), um cargo de nomeação pessoal do Presidente da República, aliás o único por si escolhido. Todos os outros membros resultam de inerências das funções governamentais ou militares que desempenham.»
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Revista à portuguesa



«O sábio grego Esopo legou-nos diferentes fábulas que se ajustam como uma luva à revista à portuguesa em que se transformou a política indígena. Sem as coristas e com mais fracos "compères" do que quem animava as noites do Parque Mayer.

Esopo, numa dessas fábulas, conta-nos a história de um grupo de ratos que se juntam para discutir como se podem livrar de um perigoso gato. Depois de muita discussão, decidem colocar um sino nele, permitindo que o oiçam quando ele se está a aproximar. Ideia genial levanta, no entanto, um problema: quem irá colocar o sino no gato? A moral da história é que é relativamente fácil em chegar-se a acordo sobre o que deve ser feito, mas é mais difícil alguém se sacrificar para executar a tarefa. Portugal está cheio desses exemplos: desde as receitas do relatório Porter sobre os "clusters", à política de reflorestação, das soluções para o Estado mais eficiente (mesmo feitas por quem andou a destruir o poder do Estado) à eficácia da justiça. Os consensos nacionais evaporam-se depois devido aos interesses de circunstância e de grupos mais ou menos organizados.

Mas sobra sempre a comédia. Veja-se o caso de Tancos para se perceber o verdadeiro momento Monty Phyton em que se transformou. O CEME vai a uma sessão fechada a sete chaves na comissão de Defesa do Parlamento e antes de acabar já se sabia cá fora o que o general Rovisco Duarte tinha dito em segredo. Marco António Costa, no fim do conclave, em vez de deixar no ar dúvidas sobre o que tinha transparecido das declarações do general, acabou por validar o que se sabia. Se isto não é um quadro de revista à portuguesa, não se sabe o que será. Pelo meio percebe-se que a autorização do Ministério da Defesa para reparar a cerca de Tancos demorou entre 33 e 73 dias, consoante as versões. Vamos ver, dentro deste espírito legalista, quanto tempo será preciso para "proibir" em Diário da República os drones que voam no espaço aéreo da Portela. Enquanto isso eles voam por aí ao sabor do desvario de alguns. Tudo isto é uma comédia.»

9.7.17

Casas «deles» (1)



Gabriel García Márquez. Casa dos avós (hoje museu), onde nasceu em 1927 e viveu até aos 10 anos. Aracataca, Colômbia (2012).

Nova série com casas de pessoas importantes (porque «importam»…), pelas quais passei. A primeira não podia deixar de ser esta…



Dica (583)



Embustes democráticos (Serge Halimi) 

«O presidente Donald Trump, enaltecido por uma eleição vencida com menos três «milhões de votos do que a sua adversária, escolheu a visita à Arábia Saudita para denunciar a ausência de democracia… no Irão. Depois, em Miami, perante os sobreviventes de uma operação militar falhada, montada em Abril de 1961 pela Central Intelligence Agency (CIA) contra o governo de Fidel Castro, usou como pretexto a «liberdade do povo cubano» para endurecer as sanções americanas contra a população da ilha.
Em matéria de celebração equívoca da democracia, o ciclo eleitoral francês que acaba de terminar não é tão burlesco como estes dois exemplos. Mas não anda muito longe.» 
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09.07.1935 – Mercedes Sosa



Mercedes Sosa faria hoje 82 anos, morreu quase há oito. Nasceu no Noroeste dessa extraordinária terra que é a Argentina, em San Miguel de Tucumán, cidade onde também num 9 de Julho foi declarada a independência do país (em 1816).

Quando a Junta Militar de Jorge Videla subiu ao poder e se foi tornando cada vez mais agressiva, Mercedes, considerada peronista de esquerda, foi detida durante um concerto em La Plata, em 1979, refugiou-se depois em Paris e em Madrid e só regressou a Buenos Aires, e ao magnífico Teatro Colón, em 1982.








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G20




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O país de Pedrógão e Tancos



«A luta de poder em Portugal (entre a elite cosmopolita que quase sempre governou e uma que ascendeu ao poder desde o tempo do cavaquismo) está a chegar ao fim nestes tempos do novo capitalismo de plataforma, que está a transformar a sociedade para pior. Os anos da austeridade serviram para culminar esse verdadeiro golpe de Estado social. Instalou-se uma nova ideologia: a da aceitação da pobreza.

Esse foi o resultado do empobrecimeto da pobreza, normalizando a sensação de que é normal que as pessoas passem mal. A destruição dos sonhos da classe média portuguesa fez parte disso. Por detrás do novo "boom" do turismo, do imobiliário e do aumento das exportações, este nivelamento por baixo ficou. Materialmente e nas mentes das pessoas. Mesmo disfarçada por um optimismo necessário, transmitida por Marcelo e por António Costa. O Portugal pós-crise é o deste país em que o minifúndio de proprietários que só olham para as suas parcas terras como uma fonte de rendas (e que por isso plantam o mais rápido dos investimentos com retorno: o eucalipto) e das torres de vigia sem soldados em Tancos. Ou o dos hospitais onde antigamente haviam seis analistas e agora só existem três ou das escolas sem assistentes por falta de verba. A pobreza está aqui. Nua.

O fim do contrato social fez-se muito rápido em Portugal. Porque aqui o Estado social chegou também tarde demais. Vivemos 20 anos com ele. Numa altura em que se vão esvaindo as certezas de que a economia de mercado, com a demolição do Estado e a sua colocação num espaço de poder mínimo, levaria a uma democracia liberal sem problemas apesar da chacina do valor do trabalho, as feridas da nossa doença eterna (a dívida) mostram a essência do país. Portugal precisa, por estes dias, de uma reformulação de ideais, depois de termos sido encorajados (por quem tinha uma verdadeira agenda ideológica) que os conflitos ideológicos tinham desaparecido. A pobreza do país, patente em Pedrógão Grande e Tancos, mostra que isso não é verdade.»

Fernando Sobral