«O sábio grego Esopo legou-nos diferentes fábulas que se ajustam como uma luva à revista à portuguesa em que se transformou a política indígena. Sem as coristas e com mais fracos "compères" do que quem animava as noites do Parque Mayer.
Esopo, numa dessas fábulas, conta-nos a história de um grupo de ratos que se juntam para discutir como se podem livrar de um perigoso gato. Depois de muita discussão, decidem colocar um sino nele, permitindo que o oiçam quando ele se está a aproximar. Ideia genial levanta, no entanto, um problema: quem irá colocar o sino no gato? A moral da história é que é relativamente fácil em chegar-se a acordo sobre o que deve ser feito, mas é mais difícil alguém se sacrificar para executar a tarefa. Portugal está cheio desses exemplos: desde as receitas do relatório Porter sobre os "clusters", à política de reflorestação, das soluções para o Estado mais eficiente (mesmo feitas por quem andou a destruir o poder do Estado) à eficácia da justiça. Os consensos nacionais evaporam-se depois devido aos interesses de circunstância e de grupos mais ou menos organizados.
Mas sobra sempre a comédia. Veja-se o caso de Tancos para se perceber o verdadeiro momento Monty Phyton em que se transformou. O CEME vai a uma sessão fechada a sete chaves na comissão de Defesa do Parlamento e antes de acabar já se sabia cá fora o que o general Rovisco Duarte tinha dito em segredo. Marco António Costa, no fim do conclave, em vez de deixar no ar dúvidas sobre o que tinha transparecido das declarações do general, acabou por validar o que se sabia. Se isto não é um quadro de revista à portuguesa, não se sabe o que será. Pelo meio percebe-se que a autorização do Ministério da Defesa para reparar a cerca de Tancos demorou entre 33 e 73 dias, consoante as versões. Vamos ver, dentro deste espírito legalista, quanto tempo será preciso para "proibir" em Diário da República os drones que voam no espaço aéreo da Portela. Enquanto isso eles voam por aí ao sabor do desvario de alguns. Tudo isto é uma comédia.»
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