3.6.15

Os gregos são os nossos vizinhos



«É provável que haja um acordo qualquer de última hora que impeça a Grécia de falir nos próximos dias. É evidente que as coisas nunca acabarão em bem (o voto do povo grego é incompatível com a linha dura da zona euro), mas podem acabar em mais ou menos. (...)

Talvez Tsipras tenha sido eleito com um mandato impossível: acabar com a austeridade numa Europa em que a austeridade foi sufragada pela maioria dos que se sentam nos conselhos europeus, e não apenas por Merkel. Mas a derrota de Tsipras provará que não há caminhos alternativos fora da “linha justa” da Europa que expulsou a social-democracia enquanto ideologia de governo.

Uma ruptura da Grécia com a Europa – um cenário com consequências imprevisíveis – daria, à partida, razão ao governo português, que aproveitou estes anos para provar que “era bom aluno”. Seria a vitória do TINA (There is No Alternatives, como a ideologia vigente na Europa ficou conhecida) e um soco no PS, que promete genericamente que um novo governo socialista faria um corte com a política de austeridade, por muito que Costa se tenha empenhado em se afastar do Syriza nos tempos recentes. Mas, independentemente de qual dos discursos seria mais favorecido no worst case scenario, na realidade a fragilidade de Portugal deixaria o país acorrentado à derrota grega. Se se abrir a caixa de Pandora, é provável que os juros da dívida de Portugal disparem como no auge da crise do euro. Portugal devia estar a torcer pela Grécia – infelizmente não está. O PSD percebe-se porquê, o PS entende-se mais dificilmente.»

Ana Sá Lopes

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